Moto G100: smartphone tem preço sugerido de 3.999 reais, 43% menos do que o iPhone 12 mais simples (Motorola/Divulgação)
Lucas Agrela
Publicado em 25 de março de 2021 às 11h00.
Última atualização em 25 de março de 2021 às 16h13.
José Cardoso começou a trabalhar na Motorola em 2000. Nessa época, nem mesmo o grande sucesso da empresa naquela década, o Razr V3, existia ainda. O mundo era muito diferente: o salário mínimo era de 151 reais, o Windows mais novo era o fiasco do ME, The Sims era novidade e o StarTac ainda era um celular para poucos. De lá para cá, tudo mudou muito, especialmente no mercado de celulares.
Se o Razr se tornou o aparelho mais vendido da Motorola naquela década, o Moto G, lançado em 2013, se tornou o produto mais vendido da história da empresa. Ele chegou ao mercado por 650 reais com configuração de hardware parecida com a de rivais que custavam o dobro do preço. De quebra, ainda vinha com uma interface do sistema Android muito parecida com a oferecida pelo Google, o que era especialmente importante em uma época de acordos comerciais abundantes entre fabricantes, operadoras e empresas para personalizar o visual do telefone e pré-instalar aplicativos.
No cargo de presidente da Motorola no Brasil desde que Sérgio Buniac assumiu a liderança global da companhia, em abril de 2018, Cardoso acompanhou de perto a evolução do Moto G nos últimos anos. Depois que a Motorola ou das mãos do Google para a Lenovo, o ritmo de lançamentos acelerou – e de novidades também. O Moto G logo virou o foco da empresa, que deixou de lado o segmento de celulares altamente sofisticados dominado por Apple e Samsung. Com isso, em 8 anos, o produto ganhou nove gerações. Até hoje. Agora, o smartphone mais vendido da empresa sobe de patamar em uma versão comemorativa da sua décima edição, mas sem perder a premissa de levar recursos de aparelhos mais caros a uma faixa de preço mais ível.
Custando 43% menos do que o iPhone 12 mais simples, a 3.999 reais, o Moto G 100 chega com recursos como câmeras com zoom, lente macro e ultra grande-angular (a lá GoPro), tela com taxa de atualização de imagem de 90 Hz, acima do padrão de 60 Hz, e compatibilidade com redes de internet 5G. E mais: o celular, pela primeira vez no mercado de celulares brasileiro, tem uma fragrância - como um carro novo. O produto vem, de fábrica, com um cheiro suave e doce. Por dentro, o aparelho conta com o processador Snapdragon 865, um componente antes encontrado apenas em celulares da categoria chamada de , no jargão do mercado.
Confira, na íntegra, a entrevista com José Cardoso, presidente da Motorola no Brasil, sobre a situação dos mercados brasileiro e global, a volta ao segmento de celulares topo de linha e a expansão dos negócios para áreas como relógios (ainda em 2021).
José Cardoso, presidente da Motorola Brasil: empresa quer liderar virada para o 5G (Motorola/Divulgação)
EXAME: Com os desafios trazidos pela pandemia, como tem sido o ano de 2021 para a Motorola?
José Cardoso: Começamos 2021 com o pé no acelerador. Temos ambição de crescimento no ano e estamos mantendo o plano para o país neste ano, assim como planos com clientes. A demanda por eletrônicos tem crescido durante a pandemia. Surgiram novas necessidades e amos a precisar de mais memória, processamento, câmera no celular, por diversas razões, como vida pessoal, estudo ou trabalho. Na transformação digital, temos trabalhado para dar e aos nossos parceiros durante esta fase. No ano ado, demos os importantes na linha com o Edge e o Razr. Buscamos crescer acima do ritmo de crescimento do mercado brasileiro neste ano. Para isso, precisamos de novos produtos, atuação forte junto aos canais de venda e inovação. Vale notar que cerca de 30% das vendas de Motorola são por canais online.
A Motorola leva agora o Moto G a um novo patamar. Qual é a expectativa com o novo produto agora com recursos vistos apenas em smartphones que custam quase 10 mil reais?
O Moto G 100 continua a ser um smartphone incrível com um preço surpreendente. Ele entrega itens de produtos de 8 mil reais por 4 mil. O novo Moto G 100 leva a promessa do Moto G em outra categoria. No ano ado, lançamos modelos acima do Moto G, como o G Plus e o 5G, e eles foram muito bem aceitos no Brasil. O consumidor entende premissas que a franquia entrega. Se podemos usar o Moto G para crescer junto ao Edge no segmento , por que não? E o Moto G 100 é uma celebração da décima edição da linha. Há muitos fãs que tiveram vários modelos do smartphone. Nesse movimento para o (acima de 3 mil reais), o segmento intermediário continuará a ser atendido. Para ele, temos os lançamentos que chegam junto ao 100, que são os modelos G10 e G30.
A Motorola está apostando, também, em uma fragrância no Moto G 100. Por quê?
A fragrância é uma identidade que a Motorola está realizando em teste piloto. Queremos criar uma experiência diferenciada no smartphone. O olfato também faz parte da experiência de compra de um produto novo e isso não foi explorado na indústria de tecnologia.
A Motorola ou muito tempo fora do segmento ocupado pelo iPhone, mas voltou no ano ado. Como tem sido o desempenho nessa categoria específica?
O segmento no Brasil cresceu 53% em valor no ano ado, segundo o IDC. A participação total no mercado foi de 15,4 para 21,8%. A Motorola dobrou a participação no segmento (acima de 3 mil reais). Na categoria do G9 Plus e 5G, que custam até 3 mil, a Motorola tem 40% de parcela de mercado. A franquia G tem ido bem porque tem uma percepção grande de valor pelo consumidor.
Qual será a estratégia da Motorola para a virada do 4G para o 5G?
Nós já começamos a, entre aspas, democratizar a tecnologia com o Moto G 5G. Abaixo de 5 mil reais, a Motorola tem 100% do mercado de 5G. O total, são 55% segundo o IDC. Lideramos o mercado de 5G no Brasil hoje. Essa inovação vai ser cada vez mais relevante e vamos liderar o processo de migração para a rede 5G no Brasil.
Além de celulares novos, o que mais está no radar da Motorola para 2021?
A primeira Moto Store no mundo será aberta no Brasil. Hoje, já temos quiosques espalhados pelo país, mas estamos entrando no segmento , com produtos e serviços, e buscamos uma forma de proporcionar mais experiências para o consumidor. A primeira loja deve ser lançada no segundo trimestre.
Com o Ready For, vocês estão viabilizando experiências como o celular fazendo as vezes de um notebook. Há esse movimento na indústria, desde abordagens similares até laptops com processadores desenvolvidos para dispositivos móveis. Você acredita que o celular pode, em alguns casos, substituir o notebook?
“Substituir” é uma palavra forte. Somos parte da Lenovo e conhecemos os dois campos. O ideal é extrair o melhor dos dois aparelhos. O que a Motorola e a Lenovo podem oferecer são as sinergias dos aparelhos. Para a geração mais nova, o celular atende a muitas necessidades, mas não todas. Por exemplo, na hora de digitar um texto, o computador ainda pode ser melhor. Mas o celular tem benefícios como a facilidade do transporte no bolso.
Como está hoje a participação do mercado brasileiro no contexto da Motorola mundial?
A Motorola está entre os três principais mercados da Motorola global. No Brasil, está de forma sólida em segunda posição. Com o brasileiro Sérgio Buniac como CEO global da empresa, vimos uma retomada de crescimento em todas as regiões, EUA, China e Europa, no ano ado. Vemos uma evolução clara na empresa como um todo. O Brasil deve continuar a ser importante e também a ser um laboratório de novas experiências, como já fizemos no ado.
Por que o Brasil, um país com tantos desafios, como a logística, foi escolhido como um mercado de testes para a empresa?
Esse é um movimento que vem das lideranças da Motorola que sempre tentaram inovar no Brasil. A empresa sempre se sentiu confortável a fazer testes no Brasil e tudo correu de forma positiva. Sempre buscamos trazer coisas novas para o consumidor brasileiro e temos usado o mercado nacional para validar novidades e levá-las ao mercado global.
Falando sobre dispositivos além do celular, a Motorola já teve outras categorias de produtos, como relógios inteligentes. Há, também, fones de ouvido da marca. Como estão essas categorias hoje e o que podemos esperar para o futuro?
No segmento , o consumidor pede outros equipamentos e serviços além do celular. Temos feito estudos para desenvolver novidades. No ecossistema, temos um plano ambicioso de aumentar a cobertura com fones de ouvido e outros equipamentos, como relógios inteligentes. Será algo que será aumentado neste ano. O usuário do G também está envolvido emocionalmente com a marca e busca algo a mais além do smartphone.