2025 não tem sido um ano fácil para a Apple (AAPL) ou para seu CEO, Tim Cook.
Após anúncio de sobretaxa, ações da Apple despencam mais de 3% e analistas apontam que produção 100% americana é inviável e encareceria o iPhone em até US$ 3.500
Repórter Publicado em 24 de maio de 2025 às 10h15.Tamires Vitorio
A gigante de tecnologia enfrenta uma nova ameaça de tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, que exige que os iPhones vendidos nos Estados Unidos sejam fabricados no país, sob pena de uma sobretaxa de 25%.
A medida provocou uma queda imediata de mais de 3% nas ações da Apple, eliminando mais de US$ 100 bilhões do valor de mercado da companhia somente na sexta-feira, 23. No ano, a empresa acumula queda de 21% até agora.
Trump comunicou em rede social que espera que a fabricação dos iPhones destinados ao mercado americano ocorra nos Estados Unidos, e que, caso contrário, será aplicada uma tarifa de pelo menos 25% sobre os produtos da Apple. A exigência reacende um desafio histórico para a empresa, que já investe em estratégias de diversificação da produção para fugir da dependência da China, onde cerca de 85% dos iPhones ainda são montados.
Nos últimos anos, a Apple ampliou sua presença fabril em países como Índia e Vietnã, na tentativa de mitigar os impactos das tarifas impostas durante o primeiro mandato de Trump.
O CEO Tim Cook destacou em recente teleconferência que a expectativa é que, no próximo trimestre, a maioria dos iPhones vendidos nos EUA tenha origem indiana, enquanto outros dispositivos, como iPads, Macs, Apple Watch e AirPods, venham majoritariamente do Vietnã.
Ainda assim, a cadeia de componentes permanece altamente ligada à manufatura chinesa, o que mantém a empresa vulnerável às decisões políticas de Washington.
Além de deslocar parte da produção para o exterior, a Apple anunciou planos de investir mais de US$ 500 bilhões nos Estados Unidos nos próximos quatro anos, incluindo a contratação de 20 mil trabalhadores e a construção de uma fábrica de servidores no Texas.
No entanto, essa postura não foi suficiente para afastar as ameaças recentes do governo americano.
Para Dan Ives, analista da Wedbush, a ideia de produção 100% americana como um "conto de fadas". Ele calcula que um iPhone fabricado nos EUA poderia custar em torno de US$ 3.500 — um valor que não encontra mercado. Além disso, prevê que a transição levaria de cinco a dez anos e implicaria um risco elevado para a cadeia de suprimentos da Apple.
A pressão sobre a Apple é acompanhada de perto pelo mercado financeiro.
O JPMorgan e Morgan Stanley são ceticistas sobre a possibilidade de a empresa transferir totalmente sua fabricação para os EUA.
Segundo o JPMorgan, um aumento generalizado nos preços, estimado em cerca de 5%, poderia amenizar os impactos das tarifas, mas a aplicação da sobretaxa somente aos iPhones seria inviável sem afetar outros smartphones.
O banco reforça a avaliação de que a fabricação integral nos Estados Unidos é economicamente inviável, dado o custo e a complexidade logística envolvidos.
Loja da Apple, em Nova York (Leandro Fonseca/Exame)
Paralelamente ao anúncio das tarifas sobre a Apple, Trump sugeriu a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre importações da União Europeia, provocando uma reação negativa nos mercados globais.
Durante uma sessão de perguntas e respostas na Casa Branca, o presidente afirmou que a política tarifária também abrangerá outras fabricantes de smartphones, como aSamsung. “Seria injusto se apenas a Apple fosse afetada,” disse. “Eles poderão evitar tarifas quando começarem a construir fábricas aqui.”
Apesar das ameaças, especialistas e analistas de mercado apostam que Cook buscará alternativas para amenizar o conflito, possivelmente oferecendo aumentos na produção de chips nos Estados Unidos ou ampliando investimentos em infraestrutura tecnológica no país.
A combinação entre tarifas elevadas, custos logísticos e a necessidade de manter preços competitivos reforça a tendência da Apple em seguir diversificando sua produção fora dos EUA, especialmente na Índia e Vietnã, para minimizar riscos financeiros e operacionais.
Enquanto isso, o mercado permanece atento à capacidade do CEO Tim Cook de navegar em meio a essa turbulência, buscando preservar a rentabilidade da Apple diante de um cenário que mistura pressões governamentais, concorrência global e mudanças no comportamento do consumidor.
A questão central segue sendo se a gigante de Cupertino conseguirá equilibrar suas operações globais sem sacrificar a atratividade dos seus produtos para o mercado americano — e tudo isso sem deixar a maçã cair.