Renato Arenhart, da Lajeadense Vidros: “A ideia é estar com tudo rodando até outubro” (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de abril de 2025 às 06h00.
Quando o Rio Taquari subiu 32 metros, em abril de 2024, Renato Arenhart viu sua empresa, a Lajeadense Vidros, desaparecer sob as águas. As paredes ruíram, os fornos foram engolidos, e os 65 anos de história da empresa da família Arenhart pareciam ter ido embora com a correnteza. Nada sobrou: 250 toneladas de vidro foram levadas, estruturas desmanchadas, escritórios e estoques destruídos. A sede, que ficava na entrada de Lajeado, cidade do Vale do Taquari, a 120 quilômetros de Porto Alegre, foi apagada da paisagem.
Fundada em 1958 pelo pai de Renato, a Lajeadense começou como uma pequena vidraçaria no centro da cidade.
Foi só nos anos 2000 que se transformou em uma indústria com capacidade para atender construtoras nos três estados do Sul. Até a enchente, faturava cerca de 50 milhões de reais ao ano. Antes do desastre de 2024, já tinha sido atingida por outras duas enchentes num curto período de tempo. A primeira, em setembro de 2023, foi a maior da história da região até então, com a água subindo a 2,4 metros dentro da fábrica, destruindo estoques e equipamentos. As enchentes subsequentes, especialmente a de maio de 2024, agravaram ainda mais a situação, com a água atingindo 13,6 metros e ando por cima de tudo. Mesmo com a destruição, Renato manteve os empregos e criou um fundo solidário entre amigos e fornecedores para ajudar dez famílias de funcionários que perderam tudo. “Perdemos a fábrica, mas não podíamos perder as pessoas”, diz.
Lajeadense Vidros: fábrica ficou totalmente destruída com chuvas de abril de 2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Hoje, um ano depois, a cena é outra. Renato decidiu mudar de localização e fugir do rio.
“Saímos da cota de inundação de 25 metros de altura e vamos para uma cota de 70 metros, bem acima da linha das inundações. Isso nos dá mais segurança e também nos permite dobrar a produção”, diz Arenhart.
As obras da nova fábrica estão aceleradas. E o projeto é bem mais ambicioso: serão 14.500 metros quadrados de área construída, com refeitório, escritórios, estacionamento para clientes e, no futuro, um boulevard com loja própria e outros quatro espaços comerciais voltados para a construção civil. Até outubro, a parte industrial deverá estar operando totalmente por ali.
“Vamos ampliar a produção, não o portfólio. Produzir mais, com mais eficiência”, diz Renato.
O novo espaço terá ponte rolante, telhado térmico, domos prismáticos para luz natural, reaproveitamento de água e automação. Serão duas linhas completas de vidro duplo, equipamentos de corte e lapidação de última geração — 30 contêineres de máquinas estão a caminho, parte delas importada da China. O investimento contou com linha de crédito emergencial do BNDES — foram 12 milhões de reais para capital de giro e 16 milhões de reais para a nova planta —, além de recursos próprios.
Hoje, a Lajeadense está com cerca de 90 funcionários e opera com a ajuda de empresas terceirizadas.
Com a nova planta, esse número vai saltar: até o fim do ano, a previsão é chegar a 150 empregados. A empresa será tocada, como sempre, pela família — Renato continua no comando, com os filhos Régis e Roberta já cuidando da operação. E, em breve, um novo integrante chega para conhecer de perto o negócio. “Vou ser avô”, diz ele, sorrindo. “É mais um motivo para não desistir.” O bebê, filho de Régis, deve nascer em outubro, junto com a nova indústria. Uma nova geração está a caminho, na fábrica e na família.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril do ano ado.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Neste especial, veja histórias de empresas que foram impactadas pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma elAs são uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente.