O prédio da Tudor: inauguração aconteceu em 2023, durante o salão Watches & Wonders, o evento mais importante do ano na relojoaria (Adrien Barakat/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 22 de maio de 2025 às 06h00.
Última atualização em 22 de maio de 2025 às 06h50.
O carro vai ando vagarosamente pelas alamedas largas da comuna de La Chaux-de-Fonds, no noroeste da Suíça, quase na fronteira com a França. Aqui e ali, vão aparecendo os prédios com os logos mais famosos da relojoaria. Cartier, Montblanc, Ebel, Eberhard, Girard-Perregaux, Zenith, TAG Heuer... São quase todos edifícios antigos, ainda que alguns reformados. Chegando à vizinha cidade de Le Locle, de apenas 10.000 habitantes, surge então a manufatura da Tudor, um prédio moderno, na cor vermelha com detalhes em preto. Novinho, novinho.
As cidades de La Chaux-de-Fonds e Le Locle são patrimônio mundial da Unesco desde 2009. A identidade da região começou a tomar forma no século 17, quando os camponeses criaram tradição na fabricação de peças e na montagem de relógios, aproveitando o tempo livre durante o rigoroso inverno nas montanhas. O ousado prédio da Tudor tem cinco andares e cerca de 5.000 metros quadrados. Foi inaugurado em março de 2023, às vésperas da estreia da marca no Watches & Wonders, o principal salão de relojoaria do mundo, realizado todo ano em Genebra.
Ousadia é o lema da marca registrada em 1926 por Hans Wilsdorf, fundador da Rolex. O escudo protege a coroa, diz um lema interno da empresa. Escudo é o símbolo da Tudor, coroa é o da Rolex. Wilsdorf queria uma segunda marca mais ível, mas com os mesmos padrões de excelência. Eram relógios para estilos de vida mais arrojados, feitos para resistir a condições extremas no gelo, na água, no ar. Essa identidade é hoje reforçada pela “Born to Dare”, pelas campanhas dinâmicas com esportistas e pelo endosso de embaixadores como David Beckham, Jay Chou e os All Blacks, a seleção neozelandesa de rúgbi.
A principal linha da Tudor é a Black Bay, lançada em 2012, inspirada nos antigos relógios de mergulho das décadas de 1950 e 1960. Entre as características da coleção estão o vidro e o mostrador côncavos, a coroa grande e os ponteiros em estilo snow flake. Em abril deste ano, no Watches & Wonders, foi apresentada uma nova versão do Black Bay 58, uma alusão a 1958, ano em que foi lançado o primeiro relógio de mergulho Tudor com estanquidade até 200 metros, dessa vez na cor vinho.
Montagem das peças: equipes treinadas para desempenhar todas as funções (Tudor/Divulgação)
Todos os relógios dessa e das outras linhas da marca do escudo, incluindo alguns modelos com certificação Master Chronometer, saem do prédio vermelho de Le Locle. A primeira unidade industrial inteiramente da marca começou a ser construída em 2018, ficou pronta em 2021, durante a pandemia, e foi inaugurada dois anos depois. O grupo possuía esse terreno em Le Locle, junto a uma fábrica da Rolex inaugurada em 1970. Antes, as operações e a montagem dos relógios aconteciam em Genebra, com peças que vinham de fornecedores das montanhas do Jura, onde fica a atual manufatura.
Trabalham hoje na fábrica cerca de 200 colaboradores vestidos de jaleco branco, que se dividem entre o monitoramento de tarefas automatizadas e o qualificado trabalho manual de relojoeiros.
Enquanto robôs am levando bandejas de relógios pelos corredores para armazenamento e enormes equipamentos fazem testes de movimentos, resistência a campos eletromagnéticos e submersão na água, artesãos com suas lupas de olho se debruçam sobre os minúsculos componentes dos relógios sobre as mesas.
Todos têm formação interdisciplinar e devem dominar todas as operações de montagem de um relógio, de todas as coleções. Eles se dividem em grupos de quatro pessoas, em três funções: montagem do mostrador, fixação dos ponteiros e encaixe. Para facilitar o intercâmbio entre eles, as bancadas usufruem da mesma disposição, com as peças dispostas nos mesmos lugares das gavetas. Nas salas de trabalho, os vidros de controle solar ajudam a reduzir o uso de energia. O grande perigo de uma manufatura que mexe com peças minúsculas é a poeira. Para evitar contaminação nos relógios, o ar das salas é trocado a cada 3 horas.
Uma visita à sede da Tudor só será completa se incluir pelo menos uma ada pelo prédio anexo onde funciona a Kenissi. Dessa pequena fábrica saem os mecanismos próprios da marca. O primeiro calibre in house da Tudor foi o MT5621, de 2015. A Kenissi faz parte da Fundação Hans Wilsdorf, sem fins lucrativos, a mesma da Tudor e da Rolex, e também produz mecanismos para marcas consagradas no universo da horologia, como Breitling, TAG Heuer, Bell & Ross e Chanel, que tem 20% da manufatura. Tudo com a marca do escudo.
*O jornalista viajou para Le Locle, Suíça, a convite do Watches & Wonders