Jon Snow, interpretado por Kit Harington: última temporada de Game Of Thrones começa neste domingo (14) (HBO/Divulgação)
Victor Sena
Publicado em 13 de abril de 2019 às 16h13.
Última atualização em 13 de abril de 2019 às 22h18.
Nos sete reinos de Westeros, o continente fantástico onde os heróis, lobos e zumbis de Game of Thrones vivem, quem tem um dragão de ouro é rico. A moeda é a mais valiosa no sistema monetário do mundo fantástico. Por aqui, do outro lado das telas, não é qualquer um que pode investir cerca de US$ 650 milhões para tirar uma boa ideia do papel. A menos que você seja a HBO.
Esse valor é considerado o mínimo que o canal a cabo desembolsou ao longo de 10 anos para produzir as oito temporadas de Game of Thrones. Os valores foram divulgados separadamente pelas revistas internacionais Variety, Digital Spy, Slate e Entertainment Weekly e compilados pela Exame.
Não há dados oficiais sobre o quanto exatamente o canal investiu na série. Os US$ 650 milhões são apenas uma estimativa, nivelada por baixo. A cifra se torna pequena quando analisamos a receita da HBO. Em 2017, de acordo com o Financial Times, o canal faturou, a partir das s, US$ 6,3 bilhões. Não há informações sobre o quanto desse faturamento foi obtido devido ao interesse do público pela série.
A adaptação da série de livros "As Crônicas de Gelo e Fogo", de George R. R. Martin, estreia a sua última temporada, mais curta, neste domingo (14). Em cada um dos seis episódios da temporada foram gastos pelo menos US$ 15 milhões.
Mesmo com o fim da série, a HBO não vai abrir mão de sua galinha de ovos de ouro. Além de produtos licenciados, o canal está desenvolvendo séries derivadas, que se am no mesmo universo criado por George R. R. Martin.
De onde vem essa capacidade de investimento da HBO?
Diferentemente de canais a cabo que recebem uma parcela pequena das s, e dos canais abertos, ela é um canal fechado . Para assisti-la, é preciso o pacote específico do canal, o que tem garantido, nas últimas décadas, mais dinheiro para inovar em dramaturgia.
De acordo com João Araújo, pesquisador em ficção televisiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o sucesso do canal se baseia no modelo de negócio, que é mais lucrativo, permite experimentações e se consolidou com autorizações judiciais para a utilização de nudez e vocabulário profano nas produções, obtidas na década de 80.
“Game of Thrones faz parte de uma segunda era de experimentações da HBO, na qual o canal começa a expandir seu público. Ela tem episódios mais caros, não tem comerciais, dá liberdade criativa e não precisar contar com tanta audiência porque o importante é a . A série transforma tudo isso, com sucesso, em marcadores de qualidade”, explica.
Além disso, Araújo também destaca a originalidade com o que o canal costuma abordar gêneros já consolidados, como tramas policiais e fantasia. “A HBO se diferencia fazendo ensaios com esses gêneros. Um exemplo é Game of Thrones, mas há também a trama policial "The Wire" e o drama familiar "Six Feet Under"”.
Para o pesquisador, isso leva a empresa a uma distinção social. Com as experimentações, ela consegue expandir a cartela de s. “A HBO era um canal que até os anos 90 não investia em séries originais. É a partir daí que começa a investir em um conjunto de produções com base na marca de “Isso não é televisão” (It’s not TV), slogan da época.”
As expectativas sobre o que deve acontecer com Jon Snow, Daenerys Targaryen e Cersei Lannister são altas. A última temporada da série demorou quase dois anos para ser produzida e tem o maior gasto por episódio desde que foi lançada.
Até então, o valor médio era de US$ 10 milhões. A temporada de estreia iniciou a série com um orçamento mais modesto, de US$ 6 milhões por episódio.
Game of Thrones, que já ganhou 38 Emmys, se transformou definitivamente em uma produção cara. Conforme os anos aram, os dragões cresceram e a audiência aumentou, levando a HBO a investir mais.
O primeiro sinal de que o que estava por vir custaria alguns milhões de dólares a mais do que o esperado aconteceu durante a produção da segunda temporada, em 2011.
Até então, a HBO previa gastar cerca US$ 7 milhões de dólares para os episódios. Para finalizar a segunda temporada, os produtores D. B. Weiss e David Benioff precisaram pedir à HBO mais dinheiro para gravar o episódio Blackwater, que mostra uma batalha naval. Os produtores precisavam de pelo menos US$ 8 milhões. O pedido foi acatado.
Nas três temporadas seguintes, esse valor mínimo estava garantido. Juntas, a terceira, quarta e quinta temporada custaram pelo menos US$ 240 milhões.
O orçamento anual da série rompeu os US$ 100 milhões na 6ª temporada. É nela que estão os ótimos episódios "The Door", "Battle of Bastards" e "The Winds of Winter". Em resumo, eles trazem zumbis, lobos gigantes, uma batalha que durou 55 dias para ser filmada, a explosão de um septo em Porto Real e a aguardada partida de Daenerys Targaryen para Westeros.
Na sétima temporada, o orçamento gordo garantiu mais batalhas. Daenerys montou em seu dragão enquanto ele cuspia fogo no exército inimigo, Euron Greyjoy atacou os aliados de Daenerys em uma batalha naval noturna e os zumbis de gelo mataram um dos dragões e depois o utilizaram para derrubar a muralha.
Além do nome HBO por trás do sucesso da série, o pesquisador João Araújo destaca que alguns elementos dramatúrgicos ajudam a explicar o sucesso de Game of Thrones. Além disso, a série de livros "As Crônicas de Gelo e Fogo" já faziam sucesso entre o público fã de literatura fantástica.
“Escolhas relativas ao modo de construção interna da série, como a narrativa e a trama nos diálogos, evocam um mundo muito maior, com redundância de simbologias ligadas às casas. Isso mostra que o mundo é rico em detalhes. Essa estratégia de um amplo número de personagens e enredos permite que você não goste de alguns núcleos e continue assistindo a série”, destaca Araújo.
Na primeira semana de abril, o elenco assistiu ao primeiro episódio da 8ª temporada de Game Of Thrones na premiere da série no New York’s Radio City Music Hall, em Nova York.
Em entrevista à Entertainment Weekly, os produtores e criadores da adaptação, David Benioff e D.B Weiss disseram que já tinham a trama final da série em suas cabeças há cinco anos.
Apesar de ser uma adaptação da obra de George R.R. Martin, a série seguiu um caminho próprio a partir da 5ª temporada, quando ela ultraou os livros.
Isso não significa que os produtores inventaram as últimas temporadas do nada. David Benioff e D.B Weiss são próximos de George R. R. Martin, o que sempre garantiu informações exclusivas sobre os destinos dos personagens. Além disso, como muitos fãs dos livros, eles têm teorias sobre outros detalhes que se a na cabeça do autor para o fim da história.
A última temporada de Game Of Thrones estreia neste domingo, 14, às 22h, no canal a cabo HBO. Veja mais notícias sobre a série e sua última temporada aqui.