Cristine Grings, CEO da Piccadilly: “Estamos construindo uma marca que acompanha a mulher moderna" (Piccadilly/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 22 de maio de 2025 às 06h15.
Última atualização em 22 de maio de 2025 às 07h40.
A gaúcha Piccadilly comemora 70 anos em 2025 e tem feito o que poucos no setor calçadista brasileiro conseguem: crescer acima da média do mercado. Em 2024, a empresa faturou 587 milhões de reais e projeta avançar 16% em 2025, alcançando 680 milhões. A produção também acelera, com previsão de 9,4 milhões de pares neste ano — alta de 15% em relação ao ano ado. As notícias boas não param por aí. No primeiro quadrimestre, a empresa de calçados femininos já registrou crescimento de 33% no faturamento e 20% no volume de pares produzidos.
“Estamos construindo uma marca que acompanha a mulher moderna em todos os momentos da vida dela, com inovação, conforto e presença forte onde ela quiser comprar”, afirma a CEO Cristine Grings Nogueira.
O desempenho da Piccadilly contrasta com o cenário geral do setor nacional, que prevê expansão modesta entre 1,4% e 2,2% em produção para 2025, a maior dos últimos onze anos, e queda de quase 18% no volume exportado entre 2019 e 2024. Na contramão do setor, a exportação de calçados da Piccadilly chama a atenção e representa uma fatia considerável dos resultados da companhia, algo em torno de 30% do faturamento vem de vendas em 100 países — um dos fatores por trás do bom desempenho da empresa.
Fundada em 1955 por Almiro Grings e seus sócios em Igrejinha, Rio Grande do Sul, a Piccadilly começou com produção quase artesanal. Em 1968, a empresa deu o primeiro o na exportação, enviando seu primeiro pedido para a Inglaterra e iniciando a presença global que mantém até hoje.
Na virada dos anos 1990, a empresa inovou ao se posicionar como a primeira marca brasileira de calçados femininos a investir em conforto, com o lançamento do Calce Perfeito e tecnologias pioneiras. Em 2000, Paulo Grings assumiu a presidência da companhia, marcando a transição para a segunda geração familiar.
A CEO Cristine Grings Nogueira, terceira geração da família, está à frente da empresa há 10 anos e acumula 20 anos de carreira na companhia, após experiências fora do negócio familiar. “Quando assumi, não imaginava estar na cadeira de CEO, mas me senti honrada pelo desafio e pela responsabilidade de conduzir a marca para o futuro”, afirma Cristine. “Nosso objetivo é quebrar o paradigma de que empresas familiares não sobrevivem à terceira geração.”
Com a nova CEO, a Piccadilly tem buscado se renovar. A governança estruturada se tornou um pilar central da estratégia. A Piccadilly mantém conselho de istração, conselho de sócios e conselho familiar, elementos que sustentam a profissionalização da gestão e asseguram decisões alinhadas com o crescimento sustentável.
No segmento de produtos, a empresa tem se adaptado para acompanhar as transformações do mercado. Na pandemia, lançou o Marshmallow, primeiro produto de EVA criado por uma marca brasileira, que logo dominou o mercado. Em 2023, investiu na cultura pop com sua primeira collab oficial, ao lado da Barbie, aproveitando o lançamento do filme live-action. Parcerias com Smurfs e Ursinhos Carinhosos também ampliam o alcance da marca para diferentes públicos.
O conforto segue como palavra-chave da marca na coleção comemorativa dos 70 anos. Revisitando modelos clássicos, como o Camila e o Best Walk, a companhia incorporou inovações em design, materiais e tecnologias.
"Escolhemos a Carolina Dieckmann como embaixadora reflete o desejo de personificar a mulher moderna: ativa, mãe, trabalhadora, que não abre mão do conforto para manter o ritmo", diz a CEO.
“O mercado multimarca ainda é o maior canal, respondendo por mais de 90% do nosso negócio, mas queremos diversificar canais para estar onde a consumidora deseja comprar”, diz Cristine.
Hoje a companhia está presente em mais de 21.000 pontos de venda no Brasil e no exterior. Para depender menos do canal multimarca, a companhia tem apostados em outras frentes. “Estamos investindo em franquias, lojas próprias e digital para criar uma experiência consistente e próxima.”
O crescimento das franquias é gradual e controlado, com 30 unidades em operação em 14 estados e meta de 40 até o fim de 2025, garantindo experiência consistente para consumidoras.
A expansão internacional segue firme, com foco especial na Argentina — hoje o maior mercado externo da empresa — onde a marca mantém parceria de 30 anos com distribuidores locais. Presente em 100 países, a Piccadilly mira aumentar sua capilaridade global, projetando 52 lojas no exterior.
O público alvo também está crescendo. A pandemia acelerou a busca por conforto, inicialmente valorizado por mulheres mais velhas, mas hoje presente também nas consumidoras mais jovens. No início do mês, a 3G Capital também entrou na tendência dos tênis confortáveis, fazendo uma aposta de US$ 9,6 bilhões para fechar o capital da Skechers, terceira maior produtora de calçados do mundo, atrás apenas de Nike e Adidas.
“O conforto não é mais exclusividade de uma faixa etária. A mulher moderna quer estar em movimento, sem abrir mão do bem-estar”, afirma a CEO.
A Piccadilly prova que, mesmo num setor marcado por ritmo lento e incertezas globais, é possível acelerar e crescer. Com governança familiar estruturada, inovação em produto, estratégias multicanais e expansão internacional, a marca chega aos 70 anos bem posicionada para os próximos os.
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