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História de 389 anos e mais rica do mundo: conheça a Universidade Harvard

Depois de congelar US$ 2,2 bilhões em verbas federais destinadas à universidade, o governo americano revogou a certificação do programa de intercâmbio de estudantes

Universidade de Havard: instituição de ensino superior tem sofrido ataques do presidente Donald Trump (Kevin Fleming/Getty Images)

Universidade de Havard: instituição de ensino superior tem sofrido ataques do presidente Donald Trump (Kevin Fleming/Getty Images)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 22 de maio de 2025 às 16h58.

Última atualização em 23 de maio de 2025 às 11h14.

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O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos revogou nesta quinta-feira, 22, a certificação do programa de intercâmbio de estudantes da Universidade Harvard — que bloqueia imediatamente a possibilidade de a instituição matricular alunos internacionais.

A ação faz parte das represálias do presidente Donald Trump contra a instituição de ensino mais prestigiada do país.

Há muito tempo o republicano é conhecido por sua conduta conservadora. Desde que voltou à Casa Branca, Trump tem aplicado medidas contra movimentos progressistas e grupos opositores.

Por sua vez, Harvard foi acusada de antissemitismo no campus e alinhamento ideológico contra o governo americano. Após a direção se recusar a atender as exigências de alterações nas políticas acadêmicas, de contratação e de issão, Donald Trump anunciou, em abril, o congelamento de US$ 2,2 bilhões em verbas federais destinadas à universidade.

Essa ação, junto às ameaças de eliminar isenções fiscais e bloqueio da entrada de estudantes estrangeiros, é interpretada como parte de uma campanha mais abrangente contra as instituições educacionais de elite que Trump apontou como centros de ideologias progressistas.

Apesar disso, enquanto outras instituições sucumbiram às ameaças do presidente, Harvard manteve sua postura firme.

Berço de grandes líderes

Fundada em 1636, a Universidade Harvard é a instituição de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos. Além de ser uma das mais disputadas da Ivy League — associação atlética que reúne oito grandes universidades privadas do nordeste do país, entre elas Brown, Colúmbia, Yale e Cornell.

Sua origem remonta à Assembleia Estadual de Massachusetts, realizada em Cambridge, onde inicialmente foi denominada New College. Três anos depois, em 1639, a instituição recebeu o nome Harvard College em homenagem a John Harvard, um jovem clérigo e ex-aluno da Universidade de Cambridge, que legou metade de sua fortuna e uma coleção de cerca de 400 livros à universidade após sua morte precoce.

O propósito inicial de Harvard era preparar ministros para as igrejas congregacionalistas e unitaristas, refletindo as influências puritanas dos primeiros colonizadores da Nova Inglaterra. Embora nunca tenha sido oficialmente vinculada a uma denominação religiosa específica, ao longo do século 18 seu currículo e corpo discente aram por um processo de secularização gradual.

Ao longo dos anos, a instituição ganhou popularidade por seus ex-alunos notáveis, como o cientista J. Robert Oppenheimer, os empresários Bill Gates (fundador da Microsoft) e Mark Zuckerberg (Meta), incluindo os brasileiros Eduardo Saverin (Facebook) e Jorge Paulo Lemann. Além de grandes nomes da política americana, como o ex-vice-presidente Al Gore, a ex-primeira-dama Michelle Obama e os ex-presidentes Barack Obama, George W. Bush e John F.Kennedy.

A universidade mais rica do planeta

Harvard não é apenas a universidade mais reconhecida dos Estados Unidos, mas também detém o título de instituição mais rica tanto no país quanto no mundo.

Com um patrimônio de US$ 53 bilhões (R$ 308 bilhões) — valor superior ao produto interno bruto de 120 países, entre eles Islândia, Bolívia, Honduras e Paraguai —, a universidade possui ativos que financiam suas operações por meio de investimentos próprios. Seu fundo patrimonial supera o de outras instituições da Ivy League como Yale, Colúmbia e Princeton.

Esse patrimônio foi construído ao longo de quase 350 anos por meio de doações, gestão financeira eficiente e investimentos privados que garantiram a Harvard recursos, em tese, suficientes para resistir a pressões políticas e econômicas que poderiam abalar outras instituições acadêmicas.

"Harvard existe há quase 350 anos. Eles demonstraram uma tremenda capacidade de atrair apoio. Ex-alunos, doadores e muitos outros têm se dedicado profundamente à instituição", explicou Steven Bloom, vice-presidente assistente de relações governamentais do Conselho Americano de Educação, em entrevista à BBC.

De acordo com o jornal britânico, Harvard apresentou em seus recentes relatórios financeiros uma estrutura financeira robusta, com superávit de US$ 45 milhões, classificação de crédito AAA, US$ 61 bilhões em ativos líquidos e investimentos, além de o a uma linha de crédito rotativa de US$ 1,5 bilhão.

O Harvard Endowment funciona como um fundo mútuo formado por vários subfundos, cada um regido por condições específicas estabelecidas pelos doadores. Esses recursos são investidos para gerar retornos: em 2024, esse retorno foi de 9,6%, ante 2,9% no ano anterior.

Embora o montante seja elevado, mais de 80% está legalmente destinado a usos específicos, como bolsas de estudo, cátedras, pesquisas médicas e auxílios financeiros.

"Muitas pessoas não entendem o que é uma doação. Elas pensam que é como uma conta-corrente, mas, na verdade, não é possível sacar dinheiro de um cartão de débito para qualquer finalidade", esclarece Bloom.

Além disso, a universidade pode sofrer processos na Justiça americana se não gastar o dinheiro de acordo com as instruções do doador.

Uma parcela relevante do orçamento (cerca de 16%) depende de recursos federais, majoritariamente vinculados à pesquisa científica.

Como o corte do governo federal pode afetar Harvard?

Considerando a elevada qualidade do ensino, Harvard é uma das universidades mais caras do mundo, com mensalidades que ultraam US$ 79 mil anuais — bem acima da média americana.

Apesar da alta receita com mensalidades e doações, muitos estudantes não pagam pelo ensino. Alunos de famílias com renda inferior a US$ 85 mil por ano têm o a ensino gratuito ou subsidiado, enquanto famílias com renda entre US$ 85 mil e US$ 150 mil contribuem com até 10% da renda anual.

Em 2023, Harvard investiu mais de US$ 850 milhões em auxílio financeiro, em grande parte coberto pelo retorno do fundo patrimonial.

Por isso, o financiamento federal é fundamental para a instituição, especialmente na área de pesquisa científica e médica. "Os fundos federais não vão cobrir o custo da mensalidade, mas sim apoiar sua enorme atividade científica e de pesquisa, como a de muitas grandes universidades", disse Bloom à BBC.

Grande parte desses recursos nem chega diretamente à universidade, sendo destinada a hospitais afiliados, como o Hospital Geral de Massachusetts, legalmente independentes e que conduzem pesquisas sobre doenças graves como câncer, aids e transplantes.

Por outro lado, a relação entre o Estado e as universidades vai além de subsídios. Trata-se de uma parceria público-privada que há décadas viabiliza avanços científicos essenciais para a sociedade. O fim do apoio governamental seria um golpe não apenas para Harvard, mas para os programas nacionais de pesquisa que dependem dessa infraestrutura acadêmica. Sem o livre ao uso dos ativos do fundo patrimonial, Harvard também teria pouca flexibilidade para enfrentar emergências financeiras.

Alguns especialistas afirmam que a universidade pode buscar financiamentos de curto prazo ou emitir títulos para preservar sua liquidez, sem precisar recorrer diretamente ao fundo patrimonial. Mesmo assim, caso a pressão governamental persista, um período de incertezas poderá se instalar. Além disso, a possível perda da isenção fiscal tornaria o cenário ainda mais desafiador.

Trump intensificou ataques a universidades, acusando-as de promover uma agenda progressista e ameaçando cortar financiamento público a instituições que supostamente censuram vozes conservadoras ou permitem protestos anti-Israel.

Desde o início dos protestos pró-palestinos em diversos campi americanos em 2023, decorrentes da guerra em Gaza, estudantes judeus relataram insegurança, enquanto outros mantiveram neutralidade ou aderiram às manifestações.

Harvard tomou medidas, como suspender programas acusados de preconceito anti-Israel e resolver dois processos por antissemitismo sem itir culpa, mas rejeitou consistentemente a interferência do governo em sua istração.

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