Em meio ao conflito no Oriente Médio, o fluxo migratório da comunidade xiita libanesa revela a busca por segurança até em territórios devastados pela guerra
Redator na Exame Publicado em 12 de novembro de 2024 às 09h39.
Em uma reviravolta geopolítica que poucos previam, cerca de 500 mil libaneses, incluindo uma grande parcela de refugiados xiitas, estão buscando refúgio na Síria.
O país, que ao longo da última década foi o epicentro de um dos maiores deslocamentos de refugiados do mundo, agora é visto como um porto seguro para aqueles que fogem da guerra e da instabilidade noLíbano. Desde setembro, muitos têm atravessado a pé a fronteira, segundo reportagem da The Economist.
Para os refugiados sírios que já residiam no Líbano, a recente crise representa uma chance de retorno ao seu país de origem. Para os libaneses, especialmente os xiitas, a Síria parece oferecer uma segurança relativa.
Parte desse fluxo migratório é incentivado pelo governo de Bashar al-Assad, que facilita a entrada dos refugiados ao isentar libaneses da taxa de US$ 100 (R$ 575) na fronteira, enquanto mantém barreiras para os sírios exilados, considerados ameaças potenciais ao regime.
O movimento de libaneses para a Síria reflete o agravamento das condições econômicas e sociais no Líbano. A desvalorização da libra libanesa e a falta de serviços básicos tornam a vida insustentável para muitos. Em contraste, na devastada Síria, alimentos distribuídos pelaONUe aluguéis baixos, mesmo com infraestrutura limitada, proporcionam uma condição mais ível para aqueles que perderam tudo.
O governo de Assad vê nessa população de refugiados uma oportunidade de reconfiguração demográfica que favoreça seu controle, substituindo a maioria sunita por minorias mais favoráveis ao regime.
Ao mesmo tempo, a presença de libaneses xiitas atrai tensões regionais. Muitos deles são suspeitos de ligação com o Hezbollah, o que desperta o interesse de Israel, que vê nessa migração uma potencial ameaça. O aumento da presença militar israelense na Síria, com ataques aéreos e incursões, expõe ainda mais os refugiados aos perigos da guerra. Os próprios sírios veem o fluxo libanês com preocupação, temendo que a entrada dos vizinhos traga a guerra para dentro de suas fronteiras.
O ressentimento entre a população local também é visível . Muitos sírios lembram das ações do Hezbollah durante a guerra civil do país, onde a milícia libanesa interveio diretamente, transformando cidades inteiras em campos de batalha e expandindo a produção de captagon, uma substância ilícita que se tornou a principal exportação da Síria.
Em Homs, cidade próxima à fronteira libanesa, uma moradora alertou: “Vocês não conseguem se defender, então não tragam o conflito para nós.”
Diante das dificuldades na Síria, uma parte dos refugiados opta por seguir adiante para o Iraque, onde os laços sectários com a comunidade xiita são mais fortes. Em cidades como Karbala e Basra, a presença de libaneses se torna cada vez mais comum, e muitos encontram abrigo em imóveis adquiridos pelo Hezbollah durante o auge do mercado imobiliário iraquiano.
2 /11Mourners in the Nahr al-Bared camp for Palestinian refugees gather for the funeral of commanders of the Popular Front For the Liberation of Palestine (PFLP) group who were killed by an overnight Israeli air strike in Beirut, at the camp near Lebanon's northern city of Tripoli on September 30, 2024. (Photo by Fathi AL-MASRI / AFP)(LEBANON-ISRAEL-PALESTINIAN-CONFLICT)
3 /11A fighter fires live rounds into the air from an assault rifle during the funeral of two commanders and one member of the Popular Front For the Liberation of Palestine (PFLP) group who were killed by an overnight Israeli air strike in Beirut, at the Beddawi camp for Palestinian refugees near Lebanon's northern city of Tripoli on September 30, 2024. (Photo by Fathi AL-MASRI / AFP)(LEBANON-ISRAEL-PALESTINIAN-CONFLICT)
4 /11Mourners gather by ambulances transporting the bodies of two commanders and one member of the Popular Front For the Liberation of Palestine (PFLP) who were killed by an overnight Israeli air strike in Beirut, during the funeral at the Beddawi camp for Palestinian refugees near Lebanon's northern city of Tripoli on September 30, 2024. (Photo by Fathi AL-MASRI / AFP)(LEBANON-ISRAEL-PALESTINIAN-CONFLICT)
+ 7