Cessar-fogo temporário em Gaza: proposta de Netanyahu para garantir retorno de reféns em meio a bloqueio humanitário (Oliver Contreras/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 21 de maio de 2025 às 15h48.
Última atualização em 21 de maio de 2025 às 15h54.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse nesta quarta-feira que está pronto para um "cessar-fogo temporário" na Faixa de Gaza para garantir o retorno dos reféns mantidos em Gaza, dos quais disse que pelo menos 20 estão "certamente vivos".
A declaração acontece em um contexto de aumento da pressão internacional contra o Estado judeu pela crise provocada pela intensificação da campanha militar no enclave palestino e pelo bloqueio à ajuda humanitária.
— Se houver uma opção para um cessar-fogo temporário para libertar os reféns, estaremos prontos — disse Netanyahu durante uma coletiva de imprensa televisionada a partir de Jerusalém.
O aceno do premier a uma trégua, porém, não parece indicar nenhum caminho para um fim negociado do conflito, apenas uma nova fase de troca de reféns por prisioneiros. Ele afirmou que do restante dos sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, pelo menos 20 estão "certamente vivos", e que estima que 38 estejam mortos. Sobre o fim da guerra, porém, voltou a afirmar que toda Gaza ficaria sob domínio de Israel.
— [Israel tem um plano] muito organizado e [a guerra em Gaza] um propósito claro e justificado — disse Netanyahu. — Derrotar o Hamas, que cometeu as atrocidades de 7 de outubro, trazer de volta todos os nossos reféns e garantir que Gaza não represente uma ameaça a Israel.
Cada vez mais pressionado pela comunidade internacional pelo bloqueio imposto contra o território palestino, que cortou por dois meses o o de insumos básicos como água, comida e remédios, Netanyahu voltou a justificar que a reabertura da fronteira — algo impopular entre alguns setores do governo — seria uma forma de manter o apoio de aliados.
— Para garantir o apoio de nossos bons amigos, uma crise humanitária deve ser evitada — afirmou o premier, defendendo um plano apresentado pelos EUA para que a ajuda internacional fosse concentrada em uma instituição, a ser distribuída em uma zona autorizada pelo Exército israelense, em um formato que ONGs e organizações internacionais já denunciaram como uma forma de usar a ajuda como uma arma.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) classificou nesta quarta-feira a ajuda humanitária autorizada por Israel em Gaza como "ridiculamente insuficiente", em uma nota que também apontou as falas recentes de autoridades israelenses sobre a entrada de caminhões de ajuda no enclave como "uma cortina de fumaça para fingir que o cerco terminou".
"A decisão das autoridades israelenses de permitir [a entrada de] uma quantidade de ajuda ridiculamente insuficiente em Gaza, após meses de cerco (...) mostra sua intenção de evitar a acusação de que está matando de fome as pessoas do enclave, embora, de fato, estejam apenas as deixando sobreviver", disse em comunicado Pascale Coissard, coordenadora de emergências da MSF em Khan Younis, no sul de Gaza.
Coissard acrescentou que o plano do Estado judeu é “uma maneira de instrumentalizar a ajuda, transformando-a em uma ferramenta a serviço dos objetivos militares das forças israelenses". A MSF também criticou o anúncio feito pelo governo de Israel nesta semana sobre a entrada de 100 caminhões de ajuda humanitária no enclave — número muito aquém dos cerca de 300 estimados pela ONU como mínimo para a demanda.
Ainda durante o momento televisionado, o premier israelense afirmou que a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza será implementada em três fases: será permitido que a ajuda básica entre em Gaza; a distribuição será feita por meio de um fundo americano; e por último, os moradores de Gaza serão direcionados para uma área limpa e livre do Hamas no norte da Faixa de Gaza.
(Com AFP)