Drone usado pela Ucrânia: equipamento usa componentes baratos e controlados por sistemas de código aberto, como o ArduPilot, podem destruir aviões caríssimos. (Jose Colon/Getty Images)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 3 de junho de 2025 às 16h48.
Última atualização em 3 de junho de 2025 às 17h47.
A Operação Spider, realizada pela Ucrânia neste domingo, 1º, que usou drones relativamente baratos para destruir avões militares russos de ponta, deixou claro uma mudança importante nas estratégias de guerra: agora, em vez de se preocupar com grandes ataques aéreos, ações localizadas e feitas com drones podem gerar danos significativos.
"A Operação Teia de Aranha marca um ponto de virada na forma como sistemas não tripulados, improvisados e de baixo custo podem ser empregados com impacto estratégico bem atrás das linhas inimigas", disse Kateryna Bondar, pesquisadora do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS), em um artigo.
"Ao combinar tecnologia ível, logística criativa e precisão direcionada, a Ucrânia demonstrou um novo paradigma na guerra com drones — um paradigma que desafia as premissas convencionais sobre escala, custo e vulnerabilidade", prossegue.
Bondar aponta que, mais uma vez, ficou demonstrado que drones feitos com componentes baratos e controlados por sistemas de código aberto, como o ArduPilot, podem destruir aviões caríssimos.
"Esses drones, custando entre US$ 600 e US$ 1 mil, atingiram com sucesso aviões russos que valem bilhões. O caso mostra uma tendência crescente na guerra moderna: sistemas produzidos em massa, de alcance ou armamento limitado, podem inflingir danos estrategicamente desproporcionais quando combinados com criatividade e inteligência ao definir alvos", afirma.
A ação feita pela Ucrânia atingiu quatro bases dentro do território russo que ficavam a milhares de quilômetros das fronteiras.
Embora os drones sejam menores, eles provavelmente foram direcionados para atacar partes sensíveis dos aviões russos, como a cabine de comando ou o tanque de combustível, de modo a inutilizá-los mesmo sem precisar destruí-los por completo.
Segundo o CSIS, há indicativos de que tecnologias com inteligência artificial foram usadas para orientar os drones a chegarem até os alvos e reconhecerem os objetos.
Além disso, os ucranianos usaram modelos soviéticos antigos, como os que ficavam em museus, para treinar os modelos de IA a reconhecer as partes a serem alvejadas. "Isso permitiu que drones superleves pudessem causar danos catastróficos aos aviões", afirma.
No domingo, 1º, a Ucrânia realizou um ataque orquestrado contra quatro bases aéreas da Rússia, onde ficavam armazenados aviões de guerra.
O ataque envolveu cerca de 120 drones e teria atingido 40 aviões russos, que representam 34% da frota aérea russa capaz de lançar mísseis, segundo o governo ucraniano.
A operação foi planejada ao longo de um ano e meio. Os drones foram enviados escondidos, dentro de caminhões de carga e camuflados dentro de módulos de madeira. Foram contratados caminhoneiros russos, que foram orientados a levar a carga até pontos predeterminados perto das bases, como os arredores de postos de gasolina.
Na hora marcada, a parte de cima das cabines foi aberta de forma remota, e os drones foram lançados, tendo de percorrer uma curta distância até os aviões, que estavam no solo.
Entre os aviões russos atacados, havia bombardeiros Tu-95, da era soviética, que não são mais fabricados. "Como a cadeia original de suprimentos de componentes era espalhada pela União Soviética, a Rússia agora não tem base industrial para rapidamente repor as perdas. Repor motores e outras partes sensíveis, pode ser difícil em um nível proibitivo", afirma a pesquisadora.
Além disso, o ataque mostra que a Rússia precisará rever toda a segurança de suas bases, para incluir barreiras contra drones. As atuais defesas, pensadas para conter ataques de mísseis e aeronaves tradicionais, não dão conta das novas táticas de guerra.