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Empresas já perderam US$ 34 bilhões com tarifas de Trump, diz Reuters

Estudo revela que incerteza sobre acordos comerciais trava decisões e pressiona lucros

Publicado em 30 de maio de 2025 às 09h45.

A política comercial do presidente Donald Trump já causou um custo superior a US$ 34 bilhões às empresas globais, segundo uma análise da Reuters com base em balanços corporativos.

O levantamento considera perdas com vendas reduzidas e aumento de custos — um valor que ainda deve crescer, em meio à incerteza sobre as tarifas americanas.

Companhias dos Estados Unidos, Europa e Ásia, entre elas Apple, Ford, Porsche e Sony, revisaram para baixo suas projeções de lucro ou retiraram completamente o guidance. A maioria aponta que a política comercial adotada por Trump impossibilitou estimar custos com precisão.

O impacto bilionário inclui dados de 32 empresas do índice S&P 500, três companhias do europeu Stoxx 600 e 21 empresas do japonês Nikkei 225.

Economistas ouvidos pela agência estimam que o custo real para os negócios pode ser múltiplas vezes maior do que os números divulgados até agora.

Segundo Jeffrey Sonnenfeld, professor da Yale School of Management, os efeitos indiretos podem ser ainda mais graves, com impactos em consumo, investimentos e inflação.

Apesar da trégua temporária na disputa entre China e EUA e da suspensão de tarifas adicionais contra a Europa, os acordos comerciais finais ainda não estão definidos.

Além disso, as tarifas de Trump enfrentaram disputas judiciais: a Justiça americana chegou a bloquear sua aplicação, mas um tribunal de apelação reverteu a decisão, autorizando a implementação e mantendo a incerteza para as empresas.

Dificuldade de fazer projeções

O levantamento da Reuters mostra que ao menos 42 companhias reduziram suas previsões e outras 16 retiraram completamente suas estimativas.

Entre os casos mais emblemáticos está a rede Walmart, que se recusou a divulgar a projeção de lucro trimestral e anunciou aumento de preços, medida que foi criticada por Trump.

A fabricante de carros Volvo Cars suspendeu a previsão de lucros pelos próximos dois anos, e a United Airlines apresentou duas projeções diferentes para 2025, diante da dificuldade de prever o cenário macroeconômico.

A instabilidade no cenário também se reflete nos balanços: no último trimestre, 72% das empresas do S&P 500 mencionaram tarifas em suas conferências de resultados, contra 30% no trimestre anterior. Na Europa, esse percentual subiu de 161 para 219 companhias. No Japão, o salto foi de 12 para 58.

“Acho que as empresas têm pouquíssima visibilidade sobre o futuro”, disse Rich Bernstein, CEO da Richard Bernstein Advisors. Para ele, quando a incerteza é tão alta, é mais seguro não divulgar projeções.

Segundo a LSEG, o lucro das empresas do S&P 500 deve crescer em média 5,1% por trimestre entre abril e dezembro, ante uma taxa de 11,7% no mesmo período do ano anterior.

Setores como montadoras, companhias aéreas e bens de consumo estão entre os mais atingidos. As tarifas elevaram o custo de matérias-primas como alumínio e eletrônicos, e a dispersão das cadeias produtivas globais tornou mais caro montar carros. Levar a produção para os EUA também implica maiores custos com mão de obra.

A Kimberly Clark, fabricante dos lenços Kleenex, reduziu sua previsão de lucro e estimou em US$ 300 milhões o impacto das tarifas na cadeia de suprimentos este ano. Poucos dias depois, anunciou um investimento de US$ 2 bilhões para ampliar sua capacidade de produção nos EUA, valor que não entra no cálculo da Reuters.

Apple e Eli Lilly também anunciaram novos investimentos no mercado americano neste ano.

Já a Diageo, dona de marcas como Johnnie Walker e Don Julio, informou que pretende cortar US$ 500 milhões em custos e vender ativos até 2028. O objetivo é compensar o impacto de US$ 150 milhões anuais no lucro operacional por conta das tarifas de 10% sobre bebidas importadas da Europa e Reino Unido.

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