Lucro líquido decepciona mercado; impacto da Resolução 4.966 e piora na qualidade do crédito rural pressionam os papéis da instituição
Repórter Publicado em 16 de maio de 2025 às 11h50. Última atualização em 16 de maio de 2025 às 11h52.
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) caiam quase 13% às 11h33 (no horário de Brasília) desta sexta-feira, 16. A queda forte acontece após o banco divulgar uma queda de 20,7% no lucro do primeiro trimestre de 2025 quando comparado ao mesmo período do ano ado.
O lucro líquido recorrente de R$ 7,4 bilhões ficou 20% abaixo da estimativa do Goldman Sachs (GS) e 19% abaixo do consenso da Bloomberg. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) caiu 480 pontos-base para 16,0%, o menor patamar desde o terceiro trimestre de 2021.
Um dos principais fatores para a performance fraca é a resolução 4.966, segundo analistas do Banco Safra e do Goldman. A norma trouxe mudanças nos critérios contábeis. O fim da apropriação de receitas de juros para créditos inadimplentes (stage 3) é uma delas. Além disso, algumas tarifas agora podem ser diferidas.
No caso do BB, a resolução causou um impacto negativo de cerca de R$ 1 bilhão nas receitas de juros (NII) e também afetou as receitas de tarifas de crédito.
A instituição ainda enfrenta uma queda nos resultados financeiros por conta do aumento da taxa Selic, segundo o Goldman. Os juros aumentaram 24% no trimestre. Isso foi mais do que o crescimento da receita financeira. Para os analistas do Goldman, o desbalanceamento entre ativos prefixados e ivos com taxa variável gerou essa pressão negativa.
Outro ponto importante para os analistas do Safra é o aumento das provisões para perdas. Elas cresceram 10% no trimestre. Isso se deve, em grande parte, à piora do crédito no setor rural. A inadimplência de longo prazo (NPL) no setor subiu para 4,5%. Isso piorou a situação e levou o banco a suspender as metas de receita financeira líquida, provisões e lucro líquido. O banco espera mais clareza nos próximos resultados.
Além do setor rural, a qualidade dos ativos caiu em outros segmentos, segundo o Safra. No varejo e no corporativo, as taxas de inadimplência de 90 dias subiram de 40 a 60 pontos-base.
Na carteira de crédito, houve um crescimento modesto de 1% no trimestre e 14% no ano. Esse aumento foi puxado principalmente pelos setores governamental, rural e varejo, segundo o Goldman. Para o banco americano, o ritmo dos pagamentos no agronegócio deve afetar o fluxo de caixa do Banco do Brasil no início do segundo trimestre.
Apesar da queda nos resultados, o índice CET1 do banco subiu um pouco para 11,0%. Isso, para os analistas de ambos os bancos, reflete a retenção de lucros e ganhos cambiais.
A visão para as ações é cautelosa. Analistas estão cortando as previsões de lucro do banco. Eles também apontam incertezas sobre a recuperação da margem financeira e do ROE, segundo o Safra. O objetivo é chegar perto de 20%. No momento, o BBAS3 negocia a 0,94 vezes o valor patrimonial e apresenta dividend yield em torno de 9,4%, com recomendação neutra para os papéis.