Repórter
Publicado em 1 de junho de 2025 às 17h18.
As maiores gravadoras do mundo, Universal Music Group, Warner Music Group e Sony Music Entertainment, estão em negociações com as startups de inteligência artificial Udio e Suno para licenciar oficialmente seu catálogo musical. O objetivo é definir um modelo de compensação que permita o uso legal das obras por sistemas generativos de música.
O movimento representa uma tentativa de encerrar litígios judiciais abertos em 2023, quando as três gravadoras acusaram as startups de violação de direitos autorais. Na época, o setor musical, por meio da associação RIAA (Recording Industry Association of America), pediu indenizações de até US$ 150 mil por faixa usada irregularmente — um valor que, somado, poderia chegar a bilhões de dólares.
As plataformas em questão, Udio e Suno, oferecem ferramentas para criação musical por meio de prompts de texto. Um usuário pode solicitar, por exemplo, “uma balada country moderna sobre um amor não correspondido”, e o sistema entrega uma faixa sonora gerada por IA. Para funcionar, os algoritmos são treinados com bancos de dados compostos por milhões de arquivos de áudio — boa parte oriunda de obras protegidas por direitos autorais.
As conversas envolvem não apenas o pagamento de taxas de licenciamento, mas também a possibilidade de as gravadoras adquirirem participações acionárias nas duas startups, como forma de mitigar riscos e se integrar ao novo mercado tecnológico. Segundo pessoas próximas à negociação, os acordos estão sendo discutidos em paralelo com cada uma das empresas, gerando uma corrida para ver qual delas firmará o primeiro pacto formal com as majors da música.
De um lado, as gravadoras buscam preservar controle sobre suas obras e evitar usos não autorizados. De outro, Udio e Suno tentam garantir flexibilidade para continuar desenvolvendo seus produtos e pedem condições comerciais compatíveis com o estágio inicial de suas operações.
O embate entre indústria musical e startups de inteligência artificial reflete um ime mais amplo sobre os limites legais do uso de conteúdo protegido para treinar modelos algorítmicos. Empresas como OpenAI, por exemplo, têm enfrentado processos semelhantes — incluindo uma ação movida pelo The New York Times —, mas também fecharam acordos com veículos como News Corp., Associated Press e Vox Media.
No caso da música, o setor tenta evitar repetir os erros do início dos anos 2000, quando plataformas de compartilhamento de arquivos como Napster e LimeWire derrubaram o faturamento global. Após anos de declínio, a indústria se reergueu com a adoção dos serviços de streaming, como o Spotify, mas mantém cautela diante de cada nova onda tecnológica.
O discurso público das gravadoras tem sido de abertura a inovações, desde que artistas e compositores sejam devidamente protegidos. A própria RIAA declarou que está disposta a colaborar com desenvolvedores “responsáveis” de IA, contanto que estes respeitem os limites legais e coloquem os criadores no centro do processo criativo.
Enquanto isso, Udio e Suno, ambas sediadas nos EUA, já despertam atenção de investidores. A Udio arrecadou US$ 10 milhões em 2023, com apoio da Andreessen Horowitz, uma das maiores firmas de capital de risco do Vale do Silício. A Suno, por sua vez, captou US$ 125 milhões em rodada liderada pela Lightspeed Venture Partners.