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O que são desertos alimentares e por que afetam mais da metade da população de Manaus?

Levantamento expõe desigualdade regional no o à alimentação: Norte concentra piores índices enquanto Sul apresenta melhores condições

Alimentação comprometida: em desertos alimentares, famílias têm o principalmente a macarrão instantâneo, embutidos e refrigerantes nas vendinhas locais, dificultando uma dieta equilibrada com frutas e verduras frescas. (Leandro Fonseca/Exame)

Alimentação comprometida: em desertos alimentares, famílias têm o principalmente a macarrão instantâneo, embutidos e refrigerantes nas vendinhas locais, dificultando uma dieta equilibrada com frutas e verduras frescas. (Leandro Fonseca/Exame)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 31 de maio de 2025 às 16h56.

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Mais da metade dos moradores de Manaus (52,5%) vivem em desertos alimentares, áreas com baixa disponibilidade de alimentos saudáveis como frutas, legumes e verduras.

A capital amazonense encabeça o ranking nacional divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que revela um cenário crítico:

15 das 27 capitais brasileiras têm ao menos 25% de seus habitantes nessa condição.

No extremo oposto está Curitiba, que apresenta o melhor desempenho nacional com apenas 9,7% da população em desertos alimentares.

A diferença entre as duas cidades ilustra as profundas desigualdades regionais no o à alimentação adequada no país.

O conceito brasileiro de desertos alimentares

No Brasil, os desertos alimentares são definidos como áreas de baixa disponibilidade e o a produtos minimamente processados ou in natura, conforme estabelece o Guia Alimentar para a População Brasileira.

Essas regiões, tanto urbanas quanto rurais, caracterizam-se pela dificuldade de encontrar mercados, feiras, hortifrutis, peixarias, açougues e mercearias que ofereçam produtos frescos.

O conceito foi definido pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), que realizou um estudo técnico de mapeamento dos desertos alimentares no Brasil para entender os fatores que impactam o o aos alimentos saudáveis no país.

A definição brasileira considera especialmente as características socioeconômicas das comunidades de baixa renda, periféricas e distantes dos grandes centros urbanos.

Segundo o Pacto Contra a Fome, esses locais são geralmente comunidades onde o o a alimentos saudáveis, nutritivos e baratos é limitado ou inexistente.

Como referência internacional, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos considera ainda uma área como deserto alimentar quando apresenta taxa de pobreza igual ou superior a 20% e pelo menos 33% da população mora a mais de 1,6 km de um supermercado.

Para áreas rurais, essa distância aumenta para 16 km.

A realidade dos desertos alimentares brasileiros

Outro aspecto crítico nesses locais é a predominância de estabelecimentos que vendem produtos ultraprocessados como refrigerantes, salgadinhos, embutidos e fast food.

São as chamadas vendinhas de bairro que, embora cumpram papel social importante, acabam oferecendo principalmente macarrão instantâneo, embutidos, bolachas recheadas e refrigerantes.

A falta de infraestrutura nessas regiões, combinada a fatores como localização geográfica, planejamento urbano inadequado e baixo poder aquisitivo local, resulta em menos incentivo para a instalação de estabelecimentos que oferecem produtos nutritivos.

E a pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social ilustra esse padrão geográfico. A região Norte concentra as situações mais graves: quatro das sete capitais da região apresentam mais de 30% dos habitantes em desertos alimentares.

Além de Manaus, destacam-se Belém (47,2%), Palmas (38,8%) e Macapá com percentuais elevados.

O Nordeste também enfrenta desafios consideráveis, com São Luís (42,3%), Maceió (34,9%) e Salvador (34,5%) entre as mais afetadas.

Já as capitais do Sul mostram o cenário oposto: Curitiba (9,7%), Florianópolis (12,3%) e Porto Alegre (15,9%) registram os menores percentuais.

O Rio de Janeiro aparece em terceiro lugar no ranking nacional, com 45,3% da população em desertos alimentares, evidenciando que o problema não se restringe às regiões Norte e Nordeste.

O problema duplo do Sudeste

As capitais do Sudeste enfrentam uma situação peculiar. Além dos desertos alimentares, convivem com os chamados pântanos alimentares - áreas com oferta excessiva de produtos ultraprocessados.

São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte apresentam, respectivamente, 25,8%, 19% e 28% da população em pântanos alimentares, percentuais próximos ou superiores aos de desertos.

Os pântanos alimentares são regiões onde é abundante a oferta de alimentos ricos em açúcares, gorduras e sódio, com muitas calorias e poucos nutrientes.

Embora seja possível encontrar opções saudáveis e íveis, elas são ofuscadas pela propaganda massiva e oferta de produtos de baixo valor nutricional.

Na capital paulista, aproximadamente 490 mil pessoas em situação de pobreza vivem em desertos alimentares, enquanto outras 199 mil habitam pântanos alimentares.

Essa sobreposição de problemas torna o cenário ainda mais complexo para a promoção da segurança alimentar.

As capitais do Norte, apesar de concentrarem os maiores percentuais de desertos alimentares, apresentam baixos índices de pântanos alimentares.

Em Manaus, apenas 3,1% da população vive nessas condições, enquanto em Belém são 7,7%.

Relação entre vulnerabilidade social e saúde

Além das limitações geográficas, barreiras socioeconômicas tornam os ultraprocessados mais íveis que alimentos in natura.

O estudo Vigitel Brasil 2023, do Ministério da Saúde, revela que apenas 21% dos brasileiros consomem a quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de frutas e vegetais - pelo menos 400 gramas por dia para adultos.

Em Manaus, a população total em áreas com baixa oferta de alimentos saudáveis (52,5%) praticamente se iguala ao percentual de pessoas de baixa renda em desertos alimentares (52,3%), o que mostra que são justamente os mais pobres que enfrentam as maiores barreiras para uma alimentação adequada.

Sem o a uma alimentação adequada, essas pessoas ficam vulneráveis a diversos problemas de saúde, como deficiências nutricionais, desnutrição, obesidade, diabetes, doenças cardíacas e outras doenças crônicas não transmissíveis.

O ciclo da má alimentação

O Pacto Contra a Fome lembra que a má alimentação impacta também no desenvolvimento cognitivo e escolar das crianças, além de gerar consequências econômicas - ao resultar em uma menor produtividade no trabalho dos adultos, cria o que a organização chama de ciclo da fome.

A falta de educação alimentar nessas regiões é mais um agravante, pois faz com que haja mais demanda por alimentos pouco nutritivos, já que as pessoas os consomem sem saber que são prejudiciais à saúde.

Por isso, os desertos e pântanos alimentares são considerados ambientes obesogênicos, que favorecem escolhas alimentares não saudáveis e comportamentos sedentários.

O Pacto Contra a Fome enfatiza, contudo, que a solução para os desertos alimentares não se limita a aumentar a disponibilidade de alimentos saudáveis.

É preciso também investir em infraestrutura, políticas públicas, iniciativas comunitárias, negócios locais e educação alimentar.

A organização defende que transformar desertos em oásis alimentares requer políticas públicas que estimulem a criação de feiras livres, hortas comunitárias e mercados municipais nessas regiões, além de incentivar o consumo e a produção de alimentos locais e a educação nutricional.

Entre as medidas sugeridas estão ações fiscais, como a taxação de alimentos com alto teor de gorduras saturadas, açúcar e sal, e a criação de incentivos fiscais para que pequenos estabelecimentos comercializem mais produtos saudáveis.

O setor público também deve fomentar a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos, além de apoiar a agricultura familiar.

Em dezembro de 2023, o Ministério do Desenvolvimento Social instituiu o programa Estratégia Alimenta Cidades, que busca ampliar a produção e o o a alimentos saudáveis nas cidades, com foco nas periferias.

A expectativa é expandir o programa de 60 para 91 municípios ainda em 2025. A implementação inclui apoio técnico, definição de ações prioritárias, investimentos no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Cozinha Solidária e modernização de bancos de alimentos.

A receit curitibana

Referência nacional ao combinar programas que vão da produção à distribuição de alimentos, a cidade de Curitiba mantém 35 Armazéns da Família que oferecem produtos com até 30% de desconto, Restaurantes Populares que servem 5.100 refeições diárias a R$ 3, e o programa Mesa Solidária, que desde 2019 já distribuiu mais de 1,3 milhão de refeições gratuitas.

A capital paranaense também investe na produção local com 209 hortas urbanas que produzem mais de 1.600 toneladas de alimentos por ano, beneficiando diretamente 32 mil pessoas.

Além disso, possui uma Fazenda Urbana no bairro Cajuru e tem previsão de inaugurar uma segunda unidade na CIC.

O secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, Leverci Silveira Filho, explica que a abordagem vai do campo ao prato, garantindo alimentação ível para quem mais precisa e investindo simultaneamente em formação profissional, combate ao desperdício e produção sustentável de alimentos.

A cidade também aposta na educação alimentar: de 2022 a 2024, 2.454 pessoas foram formadas nas quatro Escolas de Segurança Alimentar, com cursos que aliam teoria, prática e oportunidades de inclusão produtiva.

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