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Evacuação preventiva salva vidas enquanto mudanças climáticas aceleram instabilidade glacial nos Alpes. (Wirestock/Freepik)
Redação Exame
Publicado em 30 de maio de 2025 às 15h30.
Última atualização em 30 de maio de 2025 às 15h31.
A vila suíça de Blatten, localizada no vale Lötschental nos Alpes Suíços, foi praticamente destruída após o colapso dramático de uma grande porção da geleira Birch, ocorrido na última quarta-feira, 28.
O evento já é considerado uma das mais devastadoras manifestações dos riscos crescentes que as comunidades alpinas enfrentam diante das mudanças climáticas aceleradas.
Um colapso glacial que resultou no dilúvio massivo de gelo, lama e rochas que varreu a maior parte da comunidade evacuada.
Imagens capturadas por drones da emissora nacional suíça SRF mostraram uma planície de sedimentos que cobriu aproximadamente 90% da vila.
A força do evento também alterou significativamente a topografia local, enterrando completamente o leito do rio Lonza.
A evacuação preventiva dez dias antes da catástrofe impediu que a tragédia humana fosse maior, embora até o momento uma pessoa esteja desaparecida.
Os 300 habitantes de Blatten foram retirados após geólogos identificarem sinais de instabilidade na geleira, seguindo um deslizamento menor ocorrido em 18 de maio que serviu como alerta precursor.
Em declaração a veículos locais, o prefeito Matthias Bellwald destacou que "embora tenham perdido o vilarejo, não perderam o coração da comunidade". O governo suíço também se manifestou prometendo financiamento para garantir que os moradores possam permanecer na região.
A presidente suíça Karin Keller-Sutter expressou solidariedade aos afetados, enquanto os serviços de emergência fecharam o o ao vale e alertaram sobre os perigos persistentes na área - num exemplo bem sucedido de preparo e adaptação diante dos riscos crescentes a partir de eventos climáticos extremos.
Blatten não representa um caso isolado: há dois anos, moradores da vila de Brienz, no leste da Suíça, foram evacuados devido à desintegração de encostas montanhosas.
Em 2017, oito excursionistas morreram e múltiplas residências foram destruídas quando o maior deslizamento de terra em mais de um século ocorreu próximo à vila de Bondo, demonstrando a vulnerabilidade crescente da região.
O colapso da geleira Birch é mais um exemplo de um padrão regional preocupante de instabilidade glacial nos Alpes, sobre os quais especialistas que monitoram o derretimento do gelo já vêm alertando.
O relatório mais recente sobre o estado das geleiras suíças sugere que elas poderiam desaparecer completamente dentro de um século caso as temperaturas globais não sejam mantidas dentro de um limite de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
Muitos climatologistas consideram que essa meta já foi ultraada, indicando que o derretimento glacial continuará se acelerando, aumentando exponencialmente os riscos de inundações e deslizamentos de terra.
As mudanças climáticas estão acelerando ainda o derretimento glacial e comprometendo o permafrost, camada permanentemente congelada que funciona como uma espécie de "cola" mantendo as altas montanhas coesas.
Raphaël Mayoraz, diretor do escritório regional de Riscos Naturais, alertou em entrevista para a Bloomberg, que novas evacuações podem ser necessárias nas áreas próximas a Blatten, indicando que os riscos persistem.
O caso de Blatten ilustra tanto a vulnerabilidade quanto a capacidade adaptativa das comunidades alpinas.
O sistema de monitoramento geológico e os protocolos de evacuação preventiva demonstraram eficácia na preservação de vidas humanas, representando um modelo para outras regiões montanhosas expostas a riscos similares.
A tragédia também sublinha a necessidade de estratégias de adaptação climática robustas e investimentos contínuos em sistemas de alerta precoce.
A promessa governamental de financiamento para manter a comunidade na região reflete um compromisso com a resiliência local, mesmo diante de transformações ambientais irreversíveis.
A reconstrução em áreas de alto risco glacial requer reavaliação de práticas de planejamento urbano e implementação de infraestruturas adaptadas às novas realidades climáticas.
O evento em Blatten representa um marco na compreensão dos desafios adaptativos que comunidades montanhosas enfrentarão crescentemente.
A catástrofe serve como um laboratório natural para o desenvolvimento de estratégias de resiliência que poderão ser aplicadas em outras regiões alpinas vulneráveis, contribuindo para um modelo mais sustentável de ocupação territorial em ambientes de alta montanha.