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Brasil emite 4 milhões de toneladas de CO₂ em dependência da China na importação de painéis solares

Estudo inédito do Instituto E+ aponta que o país poderia reduzir e 17 vezes sua pegada de carbono com a produção nacional; Tarifaço de Trump à potência chinesa impacta mercado global

Além do risco financeiro, o corte de geração renovável representa outra preocupação significativa.

Além do risco financeiro, o corte de geração renovável representa outra preocupação significativa.

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 26 de maio de 2025 às 15h43.

O Brasil está perdendo uma oportunidade de ouro no setor de energia solar. Enquanto se consolida como potência em energias renováveis, continua importando da China boa parte dos painéis fotovoltaicos e gerando um impacto ambiental maior, além de perder bilhões em valor agregado.

É o que aponta um estudo inédito do Instituto E+ Transição Energética: as importações brasileiras de silício, componente essencial dos painéis solares - resultaram na emissão de 4 milhões de toneladas de CO₂ em 2024 -- o mesmo de emissões anuais de quase 880 mil carros e o equivalente a 0,4% do total nacional.

A conta ambiental é pesada porque a China, que domina a produção mundial de silício, tem uma matriz elétrica 17 vezes mais poluente que a brasileira.

Por outro lado, o Brasil tem tudo para ser protagonista na cadeia do silício solar: reservas abundantes de quartzo (matéria-prima), já produz silício metálico e tem a matriz elétrica mais limpa do mundo para processos industriais intensivos energeticamente. Mesmo assim, exporta silício bruto - de baixo valor - e importa painéis prontos - de alto valor.

Edlayan os, especialista em Energia do Instituto E+ Transição Energética, explicou à EXAME que seria possível reduzir a dependência chinesa internalizando parte da cadeia de valor. A organização defende uma abordagem chamada “micro-targeting industrial”, desenvolvida em colaboração com a Universidade Johns Hopkins.

A estratégia identifica o elo da cadeia mais promissor para ser nacionalizado, com base em vantagens comparativas locais. Isso inclui analisar quais itens são intensamente comercializados no mercado internacional, com forte competição e sensíveis a custos de energia e logística.

"O Brasil pode incorporar cláusulas de transferência tecnológica em acordos comerciais e de investimento, garantindo que a instalação de fábricas traga não apenas capital, mas também capacitação técnica e controle sobre tecnologias-chave", destacou Edlayan.

Atualmente, o setor brasileiro já representa mais de 15% da matriz elétrica nacional e a tendência é expandir. No entanto, o crescimento alimenta uma dependência externa que poderia ser facilmente revertida, segundo o instituto.

Impacto do tarifaço de Trump

As tarifas impostas por Trump à China estão criando um efeito colateral inesperado no Brasil e podem dar um novo futuro para a energia verde. Com os EUA fechando suas portas para painéis solares chineses, o excesso de produção asiática precisa encontrar novos destinos - e o mercado brasileiro surge como oportunidade.

"O movimento pode levar a uma inundação de excedentes chineses nos mercados latino-americanos, incluindo o nosso, dificultando ainda mais a aplicação de políticas industriais locais", disse Edlayan.

O fenômeno, conhecido como "overcapacity", transforma o país em um mercado "receptivo e vulnerável", complementou o especialista.

Paradoxalmente, a mesma guerra comercial que ameaça sufocar a indústria solar brasileira com produtos chineses baratos também abre uma janela estratégica.

Ao cortar o o aos fornecedores chineses de insumos como o polisilício, Trump cria espaço para novos players globalmente. 

"O Brasil, com uma matriz elétrica limpa, estabilidade institucional e localização geográfica vantajosa, pode se posicionar como uma alternativa mais próxima, sustentável e geoeconomicamente amigável", ressaltou Edlayan.

Desafios de custo

O estudo também mostra que o principal obstáculo sempre foi o custo: o silício brasileiro para painéis solares custaria inicialmente cerca de US$ 15 por quilo, contra US$ 6 do produto chinês mais competitivo.

Mas as regras do jogo estão mudando. Com o mercado de carbono na Europa, o CO2 está sendo comercializado em torno de US$ 90 por tonelada e a a vantagem chinesa cai. Se o preço subir para US$ 120 por tonelada, cenário considerado provável por especialistas, o silício brasileiro aria a ser mais competitivo que o chinês no mercado europeu.

Tendência global

Uma das tendências globais é o "powershorinh", atração de investimentos industriais baseada na disponibilidade de energia renovável barata e limpa -- e o Brasil tem todas as condições para liderar.

A demanda nacional por silício solar está estimada em 34,5 mil toneladas anuais na próxima década e o mercado é suficiente para sustentar uma indústria local competitiva, que ainda poderia exportar para outros países com uma pegada de carbono menor.

Os benefícios seriam múltiplos: redução drástica das emissões associadas à energia solar brasileira, melhoria da balança comercial, geração de empregos industriais qualificados e fortalecimento da cadeia produtiva nacional.

Segundo o instituto, há uma oportunidade aberta: o Brasil tem vantagens competitivas naturais, mas precisará de políticas públicas coordenadas para transformá-las em realidade. No entanto, outros países com matrizes energéticas limpas também começam a se movimentar.

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