Economia

CNI projeta crescimento de 2% da indústria para este ano — 1,3 p.p. abaixo do ritmo de 2024

Depois de puxar o PIB em 2024, indústria brasileira enfrenta cenário desafiador com desaceleração já em curso. Análise aponta pressão da alta de juros, crédito mais caro e menor demanda

A entidade também diminuiu de  2,4% para 2,3% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país como um todo (José Paulo Lacerda/CNI/Divulgação)

A entidade também diminuiu de  2,4% para 2,3% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país como um todo (José Paulo Lacerda/CNI/Divulgação)

Publicado em 27 de abril de 2025 às 08h00.

A indústria brasileira, que teve papel de destaque no crescimento econômico de 2024, deve desacelerar em 2025 diante de um cenário mais restritivo para crédito, menor estímulo fiscal e taxa de juros elevada. É o que aponta o Informe Conjuntural divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que prevê expansão de apenas 2% do PIB industrial neste ano — 1,3 ponto percentual abaixo do ritmo de 2024, que registrou 3,3% de crescimento.

O documento destaca que no ano ado o setor de manufatura foi impulsionado por fortes altas no consumo das famílias e nos investimentos, que sustentaram uma demanda elevada por bens industriais. O resultado foi um crescimento de 3,8% no PIB da Indústria de transformação.

No entanto, acrescenta a CNI, os sinais de desaceleração já eram visíveis no fim de 2024: o avanço do setor caiu para 0,8% no quarto trimestre, após altas de 1,3% e 2,1% nos trimestres anteriores.

Perda de fôlego da indústria

O início de 2025 reforça essa perda de fôlego. Dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do IBGE, mostram que a produção da Indústria recuou 1,3% no acumulado dos último cinco meses. Apenas janeiro teve variação positiva, com crescimento nulo.

A CNI atribui esse desempenho à combinação de fatores como alta dos juros, inflação persistente e depreciação cambial — que encarece os insumos e reduz a competitividade da indústria. A entidade também diminuiu de  2,4% para 2,3% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país como um todo.

"Reduzimos um pouco a projeção de crescimento do país para esse ano, porque a desaceleração da economia está sendo mais forte do que a CNI esperava e porque o Banco Central dá sinais de que vai elevar ainda mais a taxa Selic", afirma o diretor de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

A expectativa para o restante do ano é de crescimento moderado, com avanço de apenas 1,9% no PIB da Indústria de transformação. O dado representa a metade do crescimento do setor em 2024. As expectativas mais baixas também carregam as incertezas do ambiente internacional e a possibilidade de aumento da concorrência com produtos importados.

Indústria da Construção cresce acima do esperado, mas também deve desacelerar

No setor da construção, que cresceu 4,3% em 2024, a expectativa também é de desaceleração. Apesar de um início de ano ainda aquecido — com vendas de materiais de construção em alta —, a previsão da CNI é que o PIB da Indústria da construção cresça 2,2% em 2025.

O arrefecimento deve ocorrer diante da redução dos investimentos públicos, da alta dos juros e de um mercado de crédito mais seletivo. Por outro lado, fatores como o ciclo longo da construção civil, o programa Minha Casa, Minha Vida e o novo Marco Legal das Garantias podem sustentar o nível de atividade do setor.

Extrativa e utilidades: crescimento modesto em 2025

Já a indústria extrativa, que iniciou o ano com fortes oscilações mensais, teve sua projeção de crescimento revisada de 4% para 1% em 2025.

O setor, de acordo com o informe conjuntural, foi impactado por quedas de produção em janeiro, além da expectativa de redução dos preços internacionais das commodities.

A desaceleração do comércio global, em meio às incertezas sobre a política comercial dos Estados Unidos, também pesa sobre o desempenho da indústria exportadora.

O setor de eletricidade, gás, água e outras utilidades também deve crescer menos neste ano. A previsão é de alta de 2,5% no PIB do segmento, contra 3,6% em 2024.

A CNI avalia que o consumo industrial de energia, que cresceu no início do ano, tende a perder força, acompanhando o menor ritmo da atividade econômica. Já o consumo residencial deve permanecer elevado, sustentado por calor intenso, maior número de consumidores e mudança de padrão de consumo.

A análise conclui que a indústria nacional enfrenta em 2025 um ambiente de menor dinamismo econômico, com estímulos mais moderados do crédito, do mercado de trabalho e da política fiscal.

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