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Infelizmente, o mundo está melhor 

A expectativa média de vida cresceu substancialmente nos últimos tempos, a educação e o letramento das pessoas ampliaram-se

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

Amanda Flavio
Amanda Flavio

Colunista

Publicado em 5 de maio de 2025 às 20h27.

Steven Pinker, intelectual mais alinhado a ideias de centro-esquerda, defendeu recentemente a tese de que, apesar do que mostra a mídia, o mundo está melhor. Mesmo que o progresso não aconteça de forma linear, mesmo que um ou outro recuo pontual nos critérios possa ser observado, o mundo está melhor. A expectativa média de vida cresceu substancialmente nos últimos tempos, a educação e o letramento das pessoas ampliaram-se, os padrões de miséria e fome reduziram-se sensivelmente, a segurança geral do mundo melhorou.  

Mas não é isso que chama a atenção. Não é isso que vende jornais, não são essas notícias que captam audiência. A desgraça, sim. A desgraça surpreende, choca, revolta, e, chegando sem avisar, desfazendo um estado de coisas de forma abrupta, vira matéria. E as pessoas param para ler, assistir e comentar. 

Lógico que devemos ser solidários a todos os que são afetados por situações de crise, seja ela uma tragédia natural ou uma decorrência institucional. É indiscutível que devemos sair à procura de soluções para os problemas que se apresentam, tanto de curto quanto de longo prazo. Mas não podemos desfocar do todo, do verdadeiro trabalho de construção de uma sociedade estável, em que se tenha todos os indicadores de desenvolvimento em bons patamares. 

Bons projetos de governo, boas políticas públicas carregam em seu desfavor o seu baixíssimo ou nulo potencial de marketing. O mesmo mecanismo mental que nos faz esquecer de tirar a selfie em momentos de genuína descontração também nos torna relapsos em perceber o estado de tranquila felicidade. 

Isso explica por que tantos atores sociais (acadêmicos e políticos, sobretudo) preferem escolher os dramas sociais como objeto de sua atuação. Infortúnio é pop, estabilidade não. Desgraças mobilizam e, de quebra, promovem quem as elege como pauta. 

Umberto Eco costumava divertir plateias anunciando a generosidade do ódio, que é caloroso e une pessoas contra outras pessoas. De fato, para quem quer se promover, o ódio é um achado. Mas, infelizmente para esses, o mundo está melhor. 

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