Janaina Tavares, Head Global de Pessoas e Cultura da ActionAid (Fonte: Reprodução | Google)
Redatora
Publicado em 6 de junho de 2025 às 15h38.
Em um mundo onde causas sociais ganham cada vez mais protagonismo, o papel do RH no terceiro setor tem evoluído para muito além da gestão operacional.
À frente da área global de Pessoas e Cultura da ActionAid, Janaina Tavares conduz uma transformação baseada em escuta ativa, propósito e coerência institucional — elementos que, segundo ela, são essenciais para sustentar o impacto de organizações em contextos de vulnerabilidade.
Hoje, Janaina é membro do Clube CHRO da EXAME e Saint Paul, uma comunidade que reúne os maiores chefes do setor de recursos humanos do Brasil.
“Cuidar é o que se faz quando ninguém está vendo”.
A lembrança é vívida. Janaina Tavares era ainda criança quando viu sua mãe abrir a porta de casa para desconhecidos, imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos.
Ouvia histórias difíceis na cozinha e via doações discretas sendo organizadas na sala.
“Ela oferecia ajuda, escutava sem julgar, tratava cada pessoa com respeito e dignidade, independentemente da sua condição.”
Essa convivência moldou o olhar com o qual Janaina enxerga hoje o papel do RH nas organizações sociais.
Essa memória é também a base de seu compromisso atual.
“É a base do meu compromisso com a gestão de pessoas como instrumento de transformação social”, afirma.
Janaina sustenta uma tese central: no terceiro setor, o RH é uma engrenagem estratégica, responsável por garantir coerência entre discurso e prática.
“Nos contextos mais delicados, como ações humanitárias em áreas de conflito, o papel do RH se torna ainda mais sensível", ela diz.
“É ele quem cuida da segurança, do preparo emocional e da sustentação das equipes que atuam sob forte pressão", complementa a executiva.
Esse cuidado vai além de e pontual — envolve políticas permanentes de escuta ativa, bem-estar e valorização.
“Cuidar das pessoas nessas circunstâncias é mais do que um compromisso ético. É uma condição para a resiliência organizacional, a coesão interna e a sustentabilidade da missão.”
Janaina é formada em istração de Empresas, com pós-graduação em Relações Públicas e MBA em Gestão de Pessoas. Começou sua carreira no setor privado, mas encontrou propósito real no terceiro setor.
“Foi ali que percebi que aquele mesmo olhar humano, comprometido e sensível que vi na minha mãe era exatamente o que as organizações sociais precisavam.”
Hoje, à frente da área global de Pessoas e Cultura da ActionAid, presente em mais de 60 países, ela lidera equipes diversas com foco em segurança, propósito e pertencimento.
“Mesmo com limitação orçamentária, fortalecer as equipes segue sendo uma prioridade de gestão.”
Com a expansão global da ActionAid, surgiram desafios: como manter a identidade institucional em culturas distintas? Para Janaina, o RH é o guardião dessa coerência.
Na prática, isso significa promover:
O objetivo vai além de cumprir metas de diversidade — é fazer com que as políticas inclusivas funcionem no dia a dia.
Quando questionada sobre as diferenças entre o RH em ONGs e no setor privado, Janaina é direta: “O objetivo é o mesmo: desenvolver ambientes que favoreçam o engajamento, a efetividade e o alinhamento com os valores da organização.”
engajamento, a efetividade e o alinhamento com os valores da organização.”
A diferença está na intensidade do propósito.
“No terceiro setor, atuamos a partir de um forte senso de propósito”, diz Janaina.
“As pessoas estão ali por causas sociais profundas, e isso exige uma gestão mais sensível e coerente. A cultura organizacional precisa ser vivida — não apenas narrada.”
Um dos pontos mais enfatizados por Janaina é a centralidade do bem-estar das equipes na estratégia organizacional.
Na ActionAid, isso está diretamente ligado à gestão de risco, retenção e sustentabilidade.
“O desgaste das equipes em contextos de alta exigência emocional não é uma exceção — é uma variável previsível. Por isso, o cuidado com as pessoas é parte do planejamento, não uma resposta emergencial.”
Esse cuidado exige tanto preparo técnico quanto competências interpessoais como:
“Promover ambientes seguros e éticos é o que garante que as pessoas consigam exercer seu trabalho com dignidade e sentido.”
Para Janaina, o maior desafio de liderar o RH em uma organização global não é técnico — é humano.
“Trabalhamos com o compromisso claro de construir um mundo mais justo e igualitário; e isso começa dentro da própria organização.”
“Um RH eficaz é aquele que entende que as pessoas são o centro de qualquer transformação — seja ela econômica ou social”, ela traz como finalização.
“No terceiro setor, somos responsáveis por garantir que essa transformação aconteça com consistência, integridade e respeito pelas vidas que estão em jogo. No fim das contas, nosso trabalho é cuidar de quem cuida”, ela complementa.