CHRO do Instituto Clima e Sociedade fala sobre como a infância sem espaço para perguntas moldou sua escuta, sua coragem e seu estilo de liderança Silvana Pires, CHRO do ICS, lidera com escuta ativa e escolhas conscientes na carreiraGuilherme SantiagoContent WriterPublicado em 22 de maio de 2025 às 08h00. 2t1u5m
Na infância de Silvana Pires, o silêncio era norma. Conversas sobre o mundo, dúvidas de criança, opiniões à mesa: nada disso fazia parte do cotidiano. “Não existia permissão para a curiosidade”, explica ela.
Crescida em um lar marcado pela rigidez do pai e pela obediência silenciosa da mãe – que deixou o interior do Recife para fugir da fome aos dez anos –, Silvana aprendeu cedo a observar mais do que falar.
Mas ela não romantiza a experiência. “Se eu pudesse escolher, não teria aprendido dessa forma”, diz. Mas aprendeu – e transformou.
Hoje, como executiva de RH do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e membro do Clube CHRO da EXAME e Saint Paul , ela lidera na contramão do que aprendeu quando criança: com escuta ativa, sensibilidade e olhar atento.
Com mais de 20 anos de experiência em RH, Silvana ou por empresas de perfis diversos: indústria, varejo, startups, terceiro setor. Em todos os ambientes, levou com ela a mesma ferramenta: a escuta.
Mas não qualquer escuta. “Não é só ouvir. É interpretar. Entender o que a pessoa quer dizer, mesmo quando não consegue verbalizar”, pondera.
E isso fez toda a diferença na sua carreira. Foi assim que aprendeu a lidar com conflitos antes que eles explodissem. A ler sinais de insatisfação antes que virassem pedidos de demissão. A ajudar os líderes a encontrarem palavras que ainda não tinham. Para ela, isso a torna uma profissional mais completa.
Parecia estar tudo certo quando a virada mais improvável da sua trajetória aconteceu – e por escolha própria. Após anos em posições de liderança em RH, Silvana pediu demissão, se matriculou em uma escola de gastronomia e abriu uma empresa de catering. Cozinhava para eventos, pequenos grupos, executivos – muitos deles, seus antigos contatos do mundo corporativo.
“Minha mãe é cozinheira, virou chefe. Fui atrás dessa origem. Fiz Le Cordon Bleu, outros cursos menores. E me joguei”, conta ela.
Por dois anos, esse foi seu trabalho. Até que, em 2019, uma empresa a convidou para uma consultoria pontual. Aceitou. Pouco depois, veio a pandemia. A demanda cresceu, e ela precisou escolher: a cozinha ou o RH?
Ficou com o RH. Mas voltou diferente. “Aquele período me ensinou a fazer escolhas com consciência. Eu provei que podia viver fazendo o que gostava. Depois, decidi voltar a aplicar isso na área onde eu tinha mais experiência”, revela.
Silvana trocou o RH pela cozinha — até que a pandemia a trouxe de volta à sua vocação original
Foi nesse período que, após perdas de pessoas próximas, decidiu, mais uma vez, mudar tudo. Pediu demissão de um emprego estável, bem remunerado, com escuta ativa e reconhecimento. “Tinha tudo que a gente teoricamente quer. Mas eu olhei e pensei: é isso que eu quero? É por aqui que eu continuo?”
Foi o momento em que ela virou, nas próprias palavras, “protagonista da própria história”. Escolheu projetos com propósito. Aprendeu a dizer não. Reorganizou a vida.