Clube CHRO: o evento, promovido pela EXAME, reuniu líderes de recursos humanos de empresas de diversos setores para discutir saúde mental (Victor Otsuka /Exame)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 22 de maio de 2025 às 11h43.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) anunciou recentemente o adiamento da vigência da nova redação da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que agora inclui a avaliação de riscos psicossociais no ambiente de trabalho, como estresse crônico, assédio e burnout.
Originalmente prevista para entrar em vigor em 25 de maio, a medida foi postergada por um ano, atendendo a um pedido de entidades empresariais, que alegaram a necessidade de mais tempo para se adequarem às exigências da nova norma.
A expectativa é de que uma portaria oficializando a suspensão seja publicada nos próximos dias.
Embora esse adiamento possa ser visto por algumas empresas como uma oportunidade de ganhar tempo, a urgência do tema é inegável.
A saúde mental no ambiente corporativo, incluindo questões como o estresse relacionado ao trabalho e o burnout, já é uma realidade crescente.
E, mesmo com a prorrogação, muitos especialistas e líderes de recursos humanos veem essa atualização como uma chance de dar um o mais firme em direção ao cuidado real com o bem-estar dos colaboradores, muito além de uma simples conformidade com a lei.
Na última edição do Clube CHRO, realizada em 20 de maio em São Paulo, o tema foi central na mesa redonda moderada pela CSO da EXAME, Camila Securato.
Com a presença de Claudia Securato, professora da Escola de Negócios Saint Paul, e Luis Gonzalez, fundador da VidaLink, empresa que oferece benefícios corporativos de bem-estar, a conversa trouxe à tona os impactos das novas diretrizes e as estratégias que as empresas podem adotar para enfrentar os desafios impostos pela crise de saúde mental no trabalho.
O evento foi realizado no espaço de eventos da loja de vinhos Ville du Vin Itaim, em São Paulo, e reuniu representantes de empresas de destaque no cenário corporativo brasileiro, como Alelo, Alice, Wickbold, Wiz Co, Cury Construtora, Copastur, Viridien, Saint Gobain, Grupo Petrópolis, MGI, ICS, Direcional Engenharia, Inspirali, GRAN, Enforce, Grupo IN e Vidalink.
O clube CHRO é realizado pela EXAME e conta com o apoio da Alelo Benefícios.
A inclusão dos riscos psicossociais pela NR-1 é um reflexo do crescente reconhecimento da saúde mental como uma questão central nas organizações.
Dados sobre o aumento de afastamentos médicos e reclamações trabalhistas relacionadas ao burnout são apenas a ponta do iceberg.
Em 2024, o número de afastamentos devido a estresse mental cresceu 68%, e as reclamações trabalhistas por burnout subiram 400%, de acordo com pesquisa feita pela Vidalink.
A necessidade de tratar essas questões com seriedade é inegável, não apenas para garantir o cumprimento da legislação, mas para criar ambientes de trabalho mais humanos e produtivos.
Claudia Securato destacou que, mesmo com o adiamento, as empresas devem se preparar para enfrentar a realidade de um ambiente de trabalho que, muitas vezes, negligencia o bem-estar de seus colaboradores.
"O adiamento pode ter dado um fôlego extra, mas o tema da saúde mental é urgente. As empresas precisam olhar para os seus funcionários com um olhar mais cuidadoso, entendendo as causas profundas dos problemas, como o estresse e a ansiedade", afirmou Securato.
A nova redação da NR-1 exige que as empresas implementem um plano estruturado para identificar e mitigar os riscos psicossociais, o que inclui práticas de prevenção e a criação de ambientes de trabalho mais seguros. Luis Gonzalez, fundador da VidaLink, compartilhou sua visão sobre como a tecnologia pode auxiliar na gestão desses riscos.
"Utilizar a tecnologia para monitorar a saúde mental e oferecer tratamentos personalizados pode fazer toda a diferença. Mas, mais do que isso, é necessária uma mudança cultural nas empresas, que deve começar pela liderança", destacou.
Ele também sublinhou a importância da comunicação aberta e da criação de espaços seguros para que os colaboradores possam se expressar sem medo de retaliação.
A implementação de políticas que abordem questões como burnout e assédio moral é uma das principais ações que as empresas precisam tomar, independentemente da vigência imediata da NR-1.
A mesa redonda também abordou os grupos mais vulneráveis às questões de saúde mental no trabalho, com destaque para mulheres e a Geração Z.
Dados revelam que as mulheres são desproporcionalmente afetadas por questões relacionadas à saúde mental no trabalho, representando 64% dos afastamentos por problemas psicossociais, apesar de corresponderem a apenas 39% da força de trabalho formal.
A dupla jornada, o assédio e a ansiedade gerada pela maternidade são apenas alguns dos fatores que aumentam a vulnerabilidade das mulheres.
Já a Geração Z, composta principalmente por jovens que começaram sua trajetória profissional durante ou após a pandemia, enfrenta altos níveis de insegurança e ansiedade, alimentados pela pressão social das redes sociais e pela incerteza do futuro profissional, com o medo de que a inteligência artificial substitua empregos.
Gonzalez apontou a necessidade de programas de apoio específicos para esses grupos. "A saúde mental precisa ser tratada de forma personalizada. Cada grupo tem desafios distintos, e as empresas precisam estar preparadas para oferecer o e adequado", afirmou.
O RH tem papel central na implementação das mudanças necessárias para garantir ambientes de trabalho mais saudáveis e inclusivos. A criação de um ambiente seguro para discussão sobre saúde mental, a implementação de políticas flexíveis e a capacitação das lideranças para lidar com esses desafios foram algumas das principais sugestões discutidas no evento.
Camila Securato, mediadora da conversa, reforçou que o RH não deve apenas se limitar a seguir a legislação, mas também ser proativo na promoção de uma cultura organizacional que valorize o bem-estar. "O RH precisa ser o guardião do equilíbrio entre resultados e saúde mental. As empresas que realmente se preocupam com seus colaboradores terão um retorno significativo em termos de produtividade e engajamento", disse.