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Velhos, rejuvenesçam rapidamente! Ou sejam engolidos por uma revolução

Pesquisa mundial do Davos Lab revela o que os jovens fariam de diferente se estivessem no comando do mundo

Jovens querem que os decisores políticos incentivem o consumo sustentável e penalizem a produção que não é. (Luis Alvarez/Getty Images)

Jovens querem que os decisores políticos incentivem o consumo sustentável e penalizem a produção que não é. (Luis Alvarez/Getty Images)

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Publicado em 19 de agosto de 2021 às 08h00.

Por Renato Krausz*

De uns tempos para cá, ei a incluir a seguinte pergunta nas entrevistas que faço com jovens interessados num emprego de relações públicas: “Você se recusaria a trabalhar com algum setor da economia?”.

E sabem o que aconteceu? Bem, no começo, nada. Mas aos poucos as respostas afirmativas começaram a aparecer. Podemos não concordar com essa atitude, mas não podemos negar que ela existe e é um indicativo de que o ativismo juvenil está mudando bastante. E a covid-19 imprimiu nessa transformação uma velocidade que será difícil acompanhar.

O ativismo, obviamente, não é novo. Sempre existiu. Uma geração antes da minha viveu 1968. A minha vira e mexe pintava a cara e, numa dessas, vi-me embarcando num ônibus fretado pelo povo da faculdade para percorrer mil quilômetros de São Paulo a Brasília e ficar plantado em frente ao Congresso Nacional até que saísse o impeachment do Collor. Felizmente saiu.

Mas agora é diferente. Um dos resultados que a pandemia deixará para a posterioridade é uma geração muito mais organizada de jovens eleitores, consumidores e investidores. Em outras palavras, um pessoal bem mais antenado às questões climáticas e de justiça social. Essa conclusão não é minha. É do Fórum Econômico Mundial. Eu apenas concordo com ela.

Em janeiro deste ano, o Fórum lançou o Davos Lab, que partiu mundo afora numa jornada que organizou 344 debates com jovens em 146 cidades de 66 países e realizou uma pesquisa com 19.079 deles em 187 nações. Os resultados saíram este mês e são surpreendentes.

A moçada lançou um manifesto para tentar redefinir o ativismo juvenil naquilo que será o planeta pós-corona. Chamado “The Davos Lab Millennial Manifesto”, ele tem apenas seis tópicos, e o último diz assim: “Cuidaremos de nós mesmos, dos outros e do nosso ecossistema”. Quem foi jovem em outras eras sabe que aqui está uma baita mudança de comportamento.

Além do manifesto, foram lançados 40 “call to actions” da juventude para transformar a sociedade, o governo e os negócios. Os quatro primeiros são sobre consumo, e o número 1 tasca essa: “Os jovens querem que os decisores políticos incentivem o consumo sustentável e penalizem a produção que não é”. E o tópico seguinte já fala em responsabilidade corporativa e compensações com metas específicas de ESG.

Este apanhado de ações e pleitos também trata de democracia, saúde, aquecimento global, capitalismo de stakeholders e conectividade. Neste último quesito, a mocidade pede um investimento de US$ 2 trilhões para plugar 80% da população mundial. Isso é uma nova forma de gritar “Viva a revolução!”.

Além disso, foi feita uma extensa pesquisa sobre dez pilares considerados primordiais pelos jovens, como inclusão no trabalho, futuro da política, saúde mental e nova geração ESG.

Uma das perguntas é sobre os fatores que influenciariam a escolha de uma empresa para trabalhar. O salário e o pacote de benefícios aparecem em primeiro lugar, com 27,7%, mas logo em seguida, quase em empate técnico, com 27,1%, está o alinhamento dos valores pessoais com os do negócio. Outra baita mudança de comportamento.

Nelson Rodrigues tinha um conselho à juventude que virou clássico: “Jovens, envelheçam rapidamente!”. Mas eles, os jovens, têm feito exatamente isso desde o surgimento da humanidade, e o mundo está esse caco.

Talvez hoje, se vivo estivesse, Nelson se daria conta de que na inconformada geração Z está o fiapo de esperança para a salvação do mundo. Portanto, que tal focarmos no conselho inverso, que dá título a esse artigo? Para muitos de nós não é fácil rejuvenescer nas ideias e nos ideais, mas não custa imaginar o dia em que, após uma noite intranquila de sono, possamos todos acordar em plena puberdade.

*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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