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Hugo Martinelli: Você já contratou uma pessoa com TDAH hoje?

Pessoas com TDAH costumam ser muito criativas, inovadoras e dinâmicas, o que pode ser extremamente vantajoso para empresas que buscam se destacar no mercado

Cada dia que a, mais e mais pessoas são diagnosticadas com o TDAH (Westend61/Getty Images)

Cada dia que a, mais e mais pessoas são diagnosticadas com o TDAH (Westend61/Getty Images)

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Publicado em 11 de abril de 2023 às 15h00.

Por Hugo Martinelli*

O assunto deste texto me fez lembrar mais ou menos de uma música do Zeca Pagodinho que se chama Caviar. Nunca vi nem comi, eu só ouço falar.  Acredito que se a o mesmo quando o assunto é o TDAH no mercado de trabalho.

Trata-se de um tema em alta, mesmo que a grande maioria das pessoas nunca tenha ouvido falar, o que é bem pior que a situação do famoso caviar do Zeca.

Sendo assim, vamos tentar esclarecer um pouco do que se trata e como essa condição muitas vezes se apresenta por meio de indivíduos inseridos no mercado de trabalho. Mesmo que você não saiba, deve ter alguém próximo a você que apresenta algumas das características sociais que a condição impõe.

O TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma condição que afeta a qualidade que o ser humano tem de manter o foco e a atenção nas coisas e em diversas áreas da vida. Isso para uma pessoa dita “normal” pode parecer simples, mas, para quem apresenta esse quadro, as coisas começam a complicar um pouco. E manter-se focado e interessado em algo que não dá prazer se torna um grande desafio que pode levar a dificuldades em relacionamentos pessoais, de trabalho, amorosos e por aí vai.

É importante perceber nessa história toda que cada dia que a, mais e mais pessoas são diagnosticadas com o TDAH e ao mesmo tempo mais e mais pessoas não sabem como agir em relação a isso.

Apesar de ser um transtorno muito comum, ainda há muitos tabus e preconceitos envolvendo o assunto, especialmente no mercado de trabalho.

Antes de seguirmos nessa viagem e, antes que qualquer coisa me escape nesse momento que escrevo (sim, tenho TDAH), é importante deixar claro que o TDAH não é uma doença, mas uma condição neurológica que afeta a capacidade de atenção, concentração e organização das pessoas. E, apesar de muitos ainda acreditarem que isso seja uma desvantagem, há muitos argumentos em favor da contratação de pessoas com TDAH.

Em primeiro lugar, é preciso entender que a forma como as pessoas com TDAH pensam e agem é diferente da maioria das pessoas, mas não significa que sejam inferiores em nada. Pelo contrário, na verdade, muitas vezes elas têm habilidades e qualidades superiores a uma pessoa “normal” e que podem ser muito valiosas em um ambiente de trabalho. Pessoas com TDAH costumam ser muito criativas, inovadoras e dinâmicas, o que pode ser extremamente vantajoso para empresas que buscam se destacar no mercado.

Além disso, é importante lembrar que o mercado de trabalho está em constante evolução e adaptação, mesmo que a os lentos, pessoas com diferentes condições vêm sendo inseridas e acabam desenvolvendo trabalhos incríveis justamente devido às suas habilidades especiais.

Se antes era importante ter funcionários que fossem extremamente focados e metódicos (o que ainda é dependendo da função para que são designadas), hoje em dia é necessário também ter pessoas que saibam lidar com a pressão, sejam ágeis e saibam trabalhar em equipe. E essas são justamente as habilidades que a maioria das pessoas com TDAH possuem naturalmente.

Mas, claro, não podemos ignorar os desafios que a condição pode trazer. Pessoas com TDAH podem ter dificuldades em manter a concentração por longos períodos de tempo, podem se distrair facilmente e podem ter dificuldades em se organizar. No entanto, esses desafios podem ser facilmente superados com algumas adaptações simples.

Uma das maneiras de ajudar as pessoas com TDAH a se adaptarem ao ambiente de trabalho é proporcionando um espaço de trabalho tranquilo, sem muitas distrações. Além disso, é importante estabelecer rotinas claras e objetivas, para que essas pessoas saibam exatamente o que esperar e possam se organizar melhor. Também pode ser útil ter um mentor ou um colega de trabalho que possa ajudar a manter o foco e a organização. Seja direto, claro e nunca minta para um TDAH e certamente a sua empresa terá nele um dos seus melhores colaboradores.

E para resumir (sim, se deixar nos tornamos prolixos muitas vezes), o TDAH não deve ser visto como uma desvantagem na vida de ninguém, mas sim como uma diferença.

Pessoas com essa condição têm muito a oferecer e podem ser valiosas para qualquer equipe de trabalho. É preciso quebrar os tabus e preconceitos e dar oportunidades para que essas pessoas, ou nós, sejamos capazes de mostrar  todo o potencial que existe dentro de um cérebro bastante inquieto. E, claro, é importante que as empresas se adaptem e ofereçam as condições necessárias para que essas pessoas possam trabalhar da melhor maneira possível.

Espero ou esperamos que este artigo tenha ajudado a esclarecer alguns pontos sobre o TDAH e seu papel no mercado de trabalho. Lembre-se sempre de que cada pessoa é única e que as diferenças devem ser celebradas e valorizadas, não ignoradas ou desvalorizadas. A inclusão de pessoas com TDAH no mercado de trabalho é um o importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

E não podemos esquecer que o humor é uma ótima ferramenta para quebrar as barreiras e preconceitos que ainda existem em relação ao TDAH. Por isso, vamos encerrar este artigo com uma piada (sim, é possível fazer piadas sobre TDAH!):

"Por que as pessoas com TDAH não gostam de esperar em filas? Porque elas têm déficit de atenção, não déficit de paciência!"

Brincadeiras à parte, é importante lembrar que o TDAH é uma condição real e que deve ser tratada com seriedade e respeito. Mas, ao mesmo tempo, podemos e devemos encarar as diferenças com leveza e humor, pois é assim que criamos uma sociedade mais acolhedora e inclusiva para todos.

Por fim, que este pequeno texto tenha sido informativo e divertido ao mesmo tempo. E se você conhece alguém com TDAH, não hesite em valorizar suas qualidades e ajudá-lo a superar seus desafios. Juntos, podemos construir um mundo mais inclusivo e justo para todos.

*Hugo Martinelli é escritor, mestre em semiótica e TDAH

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