Parenting and family lifestyle concept. (kieferpix/Getty Images)
CEO e sócio da FESA Group - Colunista Bússola
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 10h00.
Essa semana, eu encerro um ciclo muito importante da minha vida e já sinto uma certa tristeza e nostalgia.
Calma, não estou mudando de empresa, nem de carreira. Para alguns pode parecer besteira, mas para mim não é.
Encerro essa semana a função de levar meus filhos à escola logo cedo. Meu filho mais novo está finalizando seu ciclo escolar e tudo já está bem encaminhado para que entre na Universidade (torcendo muito por ele).
Mas o que eu vejo de tão importante nessa tarefa rotineira e tão chata para alguns? Sair cedo de casa, acelerar a molecada para calçar o tênis rápido, lembrá-los de pegar a mochila, perguntar se escovaram os dentes e se não precisavam levar mais nada. E ainda pegar um trânsito que normalmente te tira da rota para ir ao seu trabalho. O que tem de tão especial nisso? Muitas coisas.
Era o “nosso momento”. Aqueles sete a 10 minutinhos no carro, pareciam uma eternidade.
Às segundas-feiras, as conversas eram repletas de comentários sobre os jogos de futebol, sobre como tinha sido o GP da Fórmula 1, e por aí vai. Eles estudaram os últimos anos em uma escola relativamente pequena e o porteiro, o querido Netinho, flamenguista e eles corintianos, já faziam o que se era esperado: um tiraria sarro do outro por causa dos resultados dos jogos. Nunca vi o Netinho um dia sequer emburrado ou de cara amarrada. Estava sempre ali, a partir das 7h15, em pé na porta da escola e cumprimentando todos os alunos.
Vira e mexe me perguntava: o que faz dele uma pessoa feliz? De onde tira tanta motivação? E eu imediatamente encarava meu dia de outra forma.
Entre terças e quintas, o papo no carro era dos mais variados possíveis. Política, mundo, viagens, e sonhos. Sonhos que todos nós não podemos deixar de ter e nem de alimentarmos. E aprendíamos muito uns com os outros. Enquanto meu mais velho fazia parte da carona, falávamos de música, ele contava a história das bandas, daquela música específica, dos shows que o Brasil terá nos próximos meses, entre outros temas. O mais novo, mais ligado ao esporte, contava histórias sobre atletas, times de rugby, curiosidades sobre o basquete europeu, e por aí vai. Às sextas-feiras eram bem legais, já saíamos da garagem planejando nosso final de semana.
Vale ressaltar: acho que eles também aprenderam muito comigo. Sempre contava alguma curiosidade ou algum desafio do trabalho, sempre tentei mostrar como cultivar as relações, como a nossa jornada aqui é de longo prazo, como ser ético e manter seus valores em um mundo cada vez mais virado de ponta cabeça e, acima de tudo, como ser um ser humano melhor - ou pelo menos assim tenho tentado a cada dia. A mensagem deu certo, me orgulho de vê-los se tornando adultos conscientes, do bem e com bons valores. O resto, eles correm atrás.
Parece que foi ontem quando os deixamos pela primeira vez no berçário. a um filme. Lembro da “Porta mágica” que eles mesmos apelidaram, do frio na barriga quando mudaram três vezes de escola, da quantidade infinita de eventos na escola, das notas baixas e como discipliná-los a mudar. Dos primeiros amigos, das primeiras namoradinhas, dos professores “chatos e dos legais”.
Foram, literalmente, milhares de dias que nos ajudaram a ter a relação que temos hoje. Minha reflexão é mais sobre qualidade do que quantidade. Como já escrevi anteriormente, a sempre aquela culpa na cabeça, de trabalharmos muito e apreciarmos pouco. Conversar com eles me fez também aprender muito sobre a geração Z. Como pensam, como se engajam nos temas, o que mais desperta a atenção deles e como eu poderia me conectar mais com essa geração. De certa forma, a tarefa rotineira “chata” me ajudou a ser um profissional melhor e tentar resolver, ou ao menos amenizar, o tal “Conflito Geracional” que possuímos atualmente em nossas empresas. Tenho certeza que a cada situação que enfrentamos em nosso dia a dia, seja rotina ou não, podemos levar algo de bom e evoluirmos. Sempre.
Queria agradecer aos meus filhos pelas caronas maravilhosas que dei a eles nesses anos todos. Nos divertíamos muito - ainda que alguns dias fossem mais tensos, como quando acontecia a tal da nota baixa, mas isso a. Ficam na memória só coisas boas.
Assim como citei o Netinho, lá no início do texto, fico me perguntando quantas rotinas te tiram do sério? Qual a sua habilidade de transformar “deveres” em alguma diversão - ou, melhor, em algum aprendizado? Vejo atualmente muita gente se descabelando para cuidar dos filhos, da casa, do trabalho, se manter em forma... Calma, o tempo é cruel mas ele pode ser nosso aliado. Ouvi esses dias do meu sócio: “O homem planeja e Deus dá risada”. Ou seja, não queira controlar tudo. Relaxe mais, se preocupe mais com problemas verdadeiramente reais, confie na qualidade do seu tempo, ela é infinitamente melhor do que a quantidade.
Encerro aqui agradecendo a Deus por ter tido essa rotina “chata” de levar os filhos para a escola. Faria tudo de novo e marcaria menos reuniões logo cedo que me faziam “pular” alguns dias dessa obrigação. Me contento agora quando o mais velho pede carona no dia de rodízio do carro dele. Por sorte, estuda pertinho da FESA.
Sentirei saudade da nossa frase final: “tchau meninos, boa aula”. Tchau pai, bom trabalho”.
E estou aqui torcendo para que, na vida deles, possam encontrar outros Netinhos que os recebam de braços abertos, e com sorriso no rosto.
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