Antecipação de envio de mesários e urnas, além do uso de aviões e barcos especiais, para que urnas cheguem até as seções estão entre as medidas adotadas
Agência de notícias
Publicado em 27 de setembro de 2024 às 11h31.
Última atualização em 27 de setembro de 2024 às 12h15.
Com a maior seca da história do país e queimadas intensas assolando 60% do território nacional, Tribunais Regionais Eleitorais se preparam para garantir eleições e adotam medidas como antecipação de envio de mesários e urnas, e uso de aviões, barcos especiais e até animais. Dos cinco estados com maior número de focos de calor, quatro (Pará, Amazonas, Rondônia e Tocantins) têm zonas eleitorais em risco e áreas que despertem preocupação. Em comunidades isoladas, moradores item a possibilidade de aumento da abstenção.
No Pará, o TRE tem negociado com empresas para trocar embarcações com profundidade maiores por outras mais baixas. Há, ainda, a avaliação de contratação de transporte animal, já que em muitas regiões as embarcações não cumprem todo o trajeto. O tribunal também tem preocupação com o transporte aéreo, já que diversas regiões estão com limitação de voo em razão das fumaças. Por isso, há possibilidade de eliminação do uso de helicópteros e de trocas de aeronaves.
A maior quantidade de população afetada é no Amazonas. Todos os 62 municípios do estado estão em situação de emergência há um mês e em 58 a situação é mais crítica, o que pode afetar a eleição, afirma o governo do estado. Cerca de 560 mil pessoas estão sofrendo os efeitos da seca de maneira mais acentuada e o governo vem ampliando envio de ajuda humanitária.
As zonas eleitorais de “difícil o” foram mapeadas pelo TRE do Amazonas e incluídas no plano logístico especial, com uso de aviões em convênio entre TSE e a Defesa. O tribunal antecipou o envio de mesários, policiais e técnicos às regiões eleitorais e a entrega de urnas pode ocorrer até oito dias antes do pleito. Segundo o governador do Amazonas, Wilson Lima (União), o estado busca soluções para garantir o o dos eleitores aos locais de cotação:
"Desde janeiro de 2024, iniciamos conversas com as prefeituras, governo federal, poderes Legislativos e Judiciário, representantes da indústria e comércio para informar sobre os prognósticos que tínhamos e também estabelecer ações de mitigação".
Em Rondônia, Luiz Alves será um dos barqueiros responsáveis pelo transporte das urnas recolhidas em Porto Velho e levadas a povoados ao longo do Rio Madeira. Ontem, o TRE determinou que a viagem será feita com um dia de antecedência, como precaução. A viagem de Alves deve durar 10 horas, cerca de duas horas a mais que o normal, já que a velocidade precisa ser reduzida em níveis d’água mais baixos.
Procurado, o TRE de Tocantins não retornou o contato.
Em visita a Manaus, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, demonstrou preocupação com o o de eleitores às urnas e pediu atenção especial à Justiça Eleitoral. No mês ado, ela já havia afirmado que a situação vinha lhe “tirando o sono”:
"Eu consigo garantir a chegada das urnas aos locais com segurança (...). Mas o receio é como o eleitor vai chegar".
Na Amazônia, os rios são a principal forma de navegação, por isso a estiagem é capaz de deixar comunidades isoladas. Segundo o MapBiomas Água, a perda de superfície de água na Amazônia neste ano já chegou a 1,7 milhão de hectares, atingindo 558 municípios.
"Nosso estudo apontou que 75% da perda de superfície de água em 2023 ocorreu a 25km das pequenas cidades e vilarejos. Em 2024, a seca chegou dois meses mais cedo", afirma Carlos Moreira, coordenador do MapBiomas.
Na comunidade Amador, em Óbidos (PA), a pescadora Josana Pinto diz que os barcos só chegam a até 1,5 quilômetro do povoado, em função da baixa do Rio Amazonas. Portanto, ela diz que esse trajeto final terá que ser feito a pé, carregando as urnas.
Os eleitores também sofrerão. Parte das 35 famílias que vivem no Amador vota em Januária, e precisam andar o trajeto a pé até o barco no Rio Amazonas. A outra parte consegue pegar barcos menores na própria comunidade e ir em outra direção, para votar em Auerana. Ela ainda se preocupa com a população que deixou a comunidade durante esse período de seca.
"Tem gente que acho que vai deixar de votar. Com a seca, algumas pessoas foram ar temporada na cidade, preocupados com a falta de água potável — explica Josana, que recorre ao filtro para usar água das poças que sobraram".